Março - 2024 - Edição 299

Da África ao Brasil

Tornou-se comum o uso de palavras africanas no Carnaval do nosso país. Para ganhar um dos últimos eventos, Martinho da Vila deu o título de “Kizumba” ao seu inspirado samba-enredo. E é muito presente o emprego da palavra “Oxalá” em composições que brilham na nossa maior festa popular, como aconteceu agora com a vitoriosa Unidos de Viradouro, de Niterói.

As palavras africanas dão colorido e sabor aos nossos sambas. Servem de autêntico tempero, como aconteceu no Carnaval de 2024. Reparem nesse trecho: “Arroboboi, meu pai/Arroboboi, meu pai/Arroboboi, Dangbé/Destila seu axé na alma e no couro? Derrama nesse chão a sua proteção/ Pra vitória da Viradouro.”

Fala depois na força do Vodum e no toque de adahum, pra chegar à divindade em Daomé. Ya é Gu rainha, herdeiro do Candomblé. Clamam Kolofé, antes de chegar ao ninho da serpente (preparada para lutar) – e que foi muito aplaudida quando se apresentou no Sambódromo iluminado, numa coreografia rigorosamente genial. Aliás, todos os itens da escola de Niterói tiveram um extremo bom-gosto e receberam um unânime 10. Coisa rara!

Daomé, na África, é parte do Benim e é associado a uma serpente benigna, muito bem retratada pelo carnavalesco da Viradouro. Com a sua apresentação impecável, no segundo dia dos desfiles, já deixou antever que iria de qualquer forma para a finalíssima.

Cada Carnaval, com a riqueza das suas produções, mexe com a estrutura da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da Academia Brasileira de Letras. O seu Dicionário ganha novas palavras, consagradas pelos milhares de foliões que prestigiaram o Sambódromo, quando este comemorava os seus primeiros 40 anos de vida. Ficamos atentos a essa contribuição.

Queremos voltar à Unidos de Vila Isabel porque o seu grande compositor, que é Martinho da Vila, sempre que pode utiliza palavras africanas. No último Carnaval, disse que “a criança é a esperança de Oxalá”. Fala também nos Orixás e que “Olorum é o Deus dos Deuses”. Como se vê, não há economia quando se trata de lembrar a cultura africana. Essa espécie de simbiose faz bem ao nosso coração.