Julho - 2023 - Edição 293

Gilberto Gil, Aquele Abraço

A amiga Gilda Matoso, viúva do poeta Vinícius de Moraes, toca o telefone e pergunta o que achamos do show de Gilberto Gil e família, no Teatro Qualistage, no Rio, para uma plateia de cinco mil pessoas. Difícil encontrar palavras para definir aquelas duas horas de músicas de primeira qualidade, com a participação de filhos, filhas, netos e netas, todos afinadíssimos. Um álbum de família (Nós, a gente), com destaque para a palavra ancestralidade. “A África está sempre presente nas conversas lá de casa” – afirma o orgulhoso Gil, membro da Academia Brasileira de Letras.

A temperatura do show cresce quando percebemos a presença no palco da sua filha Preta Gil, hoje em severo tratamento de câncer. Lá pelas tantas ela desaparece, mas volta antes do final, para receber merecida ovação quando afirma, orgulhosa, “sou filha de um imortal, preta, cantora, em tratamento de câncer, gorda, bissexual”. São muitas nuances numa só personalidade.

Os telões ao fundo são muito importantes. São imagens da Bahia, do Rio, dos filhos de Gandhi, dos Doces Bárbaros, da sua amiga Rita Lee (muito homenageada) e de toda a família, inclusive os pequerruchos que se iniciam na carreira musical. Preta Gil canta o Vá se Benzer, que gravou com a inesquecível Gal Costa. O neto Sereno brinca com a guitarra, como se já fosse um profissional. O que se revela quando a linda neta Flor canta com Gil a famosa Garota de Ipanema, numa bonita homenagem a João Gilberto. A crítica social até nos Barracos da cidade e a proposta musical se sustenta na figura do diretor musical Bem e do trio Francisco, João e José, que integram o conjunto de Os Gilsons. As vocalistas são Preta Gil, Nara e Flor, ainda com a nora Mariá Pinkusfeld. É um quarteto vocal de muito respeito.

A renovada homenagem a João Gilberto se assinala com o famoso O pato. O próprio Gil ganha muitos aplausos com o seu incrível Andar com fé. Vem para chegarmos, na hora do esperado bis, ao famoso Aquele abraço, em que se lembra até a torcida do Flamengo, para chegar à afirmação de que O Rio continua lindo. Quem diria que não, depois de um sucesso tão avassalador?