Dezembro - 2022 - Edição 286

O valor literário do cordel

Quem duvida do valor que tem, na cultura brasileira, a apreciada literatura de cordel? A Academia Brasileira de Letras acaba de assinar acordo com o Sebrae/Ceará para desenvolver o gênero na região. É uma iniciativa do acadêmico Gilberto Gil, dentro do que chamamos de economia criativa. Tem merecido o apoio do governador e acadêmico Lúcio Alcântara, presidente da Academia Cearense de Letras.

O que se observa, desde logo, é que há um interesse muito grande de todo o Nordeste pela matéria. Chegou a ser criada, o que foi sem dúvida, uma bela iniciativa, a Academia do Cordel.
Seus frutos podem ser apreciados na Feira Nordestina dentro do Pavilhão de São Cristóvão, onde é muito comum os cantadores, com suas vozes características, chamarem a atenção do público para os seus versos inspirados. Na Academia Carioca de Letras, hoje presidida pelo ator Sérgio Fonta, os cordelistas estão muito bem representados e espera-se que isso se estenda à ABL. Ao contrário do que muitos pensam, o cordel não foi criado no Brasil. O estilo já existia no período dos povos greco-romanos, fenícios, cartagineses e saxões. Chegou a Portugal e Espanha por volta do século XVI.

No Brasil, veio com os colonizadores, instalando-se na Bahia, mais precisamente em Salvador, que à época era a capital brasileira. Estudos apontam 1893 como o marco da literatura de cordel, quando o paraibano Leandro Gomes de Barros teria publicado os primeiros versos no país. Os folhetos em que eram inseridos pequenos textos corridos e poemas eram chamados de “folhetos de cordel”. Esses folhetos sempre eram vendidos de mão em mão e a baixo custo.

No início do século XX, numa sociedade ainda com poucos meios de comunicação disponíveis, o cordel proliferou por vários estados do Nordeste.

Um grande colecionador do cordel é o escritor e meu amigo Arnaldo Saraiva, da Academia das Ciências de Lisboa, que me recepcionou na cidade portuguesa do Porto, onde vive o grande escritor lusófono. Como se vê, há razões de sobra para acreditar no futuro da literatura de cordel entre nós.