Outubro - 2022 - Edição 284

SOS Língua Portuguesa

Reiteradas vezes temos dito, na Academia Brasileira de Letras, que a nossa obrigação primeira é cuidar com desvelo da língua portuguesa. E isso, naturalmente, parte da educação oferecida aos jovens estudantes. Com dados oficiais, agora divulgados pelo Ministério da Educação, pode-se concluir que houve um grande recuo no ensino fundamental. A proporção de crianças sem saber ler no 2º ano praticamente dobrou após a pandemia. Isso certamente afetará os resultados do que chamamos de índices de leitura. É claro que uma coisa está ligada a outra, a exigir urgentes providências pedagógicas, em especial nos estudos da 2ª e da 3ª série do ensino fundamental.

O assunto foi debatido em reunião especial, na semana passada, na Comissão de Lexicografia e Lexicologia da Academia. Presentes os seus membros Evanildo Bechara, Domício Proença e Arnaldo Niskier. Foi sugerido que a ABL ofereça ao Ministério da Educação um estudo sobre a matéria, com a criação de um grupo de trabalho e a realização de sessões especiais destinadas a acolher professores de Língua Portuguesa do sistema público de ensino, de forma gratuita. Os primeiros trabalhos seriam feitos com a parceria da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.

Ficou evidente que a pandemia reduziu o aprendizado em toda a educação básica, com prejuízo, inclusive, na área de matemática (ênfase na 5ª série). Pode-se avaliar desde logo os estragos que esse fato provocará em todo o desenvolvimento do extrato do ensino médio. Calar diante disso não é aconselhável.

Esse projeto poderá ser estendido a outros Estados, desde que haja o necessário acordo. Os resultados alcançados provam que a solução proposta pelo governo (educação domiciliar) não surtiu qualquer efeito positivo.

Com esses resultados (queda no número de pontos em Português e Matemática), não há dúvida de que o Brasil se comportará muito mal nas avaliações feitas pelo Pisa. O país vai retroceder. Conclui-se que a alfabetização a distância foi um fracasso. É sempre necessária a mediação de um professor presencial. E assim se poderá ter esperança de melhores resultados ao longo de todo o ensino fundamental, e não somente na 2ª e na 3ª séries.