Novembro - 2022 - Edição 285

O Brasil é um país turístico e inúmeras línguas convivem com a nossa língua portuguesa nas mais variadas regiões. Muito justo que façamos o possível para entender os estrangeiros que aqui chegam, mas fazemos um apelo: não nos esqueçamos da língua pátria, tão linda, entretanto tão maltratada por tantos...


Diariamente

“Heloísa não come macarrão no seu dia-a-dia.”
Dessa maneira, vai acabar com inanição.
Veja: conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, não se emprega mais hífen na expressão dia a dia (locução substantiva).
Frase correta: “Heloísa não come macarrão no seu dia a dia.”


Os porquês

Por que o povo fica nervoso na hora do jogo? Porque os brasileiros amam o futebol.
Por que usar o porquê é tão complicado?
Não há complicações. Basta entender:
Por que (separado e sem acento) é para frases interrogativas diretas ou indiretas – Por que acreditamos ganhar a Copa do Mundo?
Por quê (separado e com acento) só é usado no final das frases interrogativas – Acreditamos ganhar a Copa do Mundo, por quê?
Porque (junto e sem acento) deve ser usado nas respostas – Porque os brasileiros merecem essa alegria.
Porquê (junto e com acento) é usado quando for substantivo – Todos sabem o porquê do amor que os brasileiros têm pelo futebol.


Será que ela não gosta de futebol?

“A sobrinha disse ao tio: não quero lhe falar sobre o que acho de Copa do Mundo.”
Duvido que o tio vá querer falar com ela.
Cuidado! Apesar de muito popularizada esta construção está errada.
Nas locuções verbais em que o verbo principal estiver no infinitivo (falar) ou no gerúndio (falando) precedido de partícula atrativa (não), o pronome (lhe) deve ser colocado antes do verbo auxiliar (quero) ou depois do verbo principal, mas jamais entre ambos.
O correto é: ... “não lhe quero falar sobre o que acho de Copa do Mundo ou não quero falar-lhe sobre o que acho de Copa do Mundo.”


Pomada errada

“Após ser contundido, o jogador foi atendido pelo médico, que lhe indicou uma pomada para uso esterno.”
Certamente não foi bom o resultado, não curando a contusão do rapaz.
Observe: externo – do lado de fora, exterior.
Esterno – osso dianteiro do peito.
Período correto: “Após ser contundido, o jogador foi atendido pelo médico, que lhe indicou uma pomada para uso externo.”


Engano

“O menino pediu ao pai que o levasse para conhecer a sala de troféis do seu clube.”
Que tristeza! Ninguém pode falar assim. O plural de troféu é troféus.
Período correto: “O menino pediu ao pai que o levasse a sala de troféus do seu clube.”


Satisfação

“O senhor se disse satisfeito com o país-sede da Copa, com os jogadores já definidos, com os estádios e etc.” Não é bem assim! Não há necessidade de escrever “e etc.”.
Etc é a abreviatura da expressão latina et coetera, que quer dizer: e outras coisas.
Logo, o “e” torna-se desnecessário. Basta escrever e dizer etc.
Recomenda-se não usar vírgula antes do etc .
Período correto: “O senhor se disse satisfeito com o país-sede da Copa, com os jogadores já definidos, com os estádios etc


Incerteza

“Nosso futuro na Copa é inserto.”
Assim, não chegará a lugar algum! A palavra inserto está empregada indevidamente.
Veja:
Inserto – que foi inserido; incluído ou introduzido.
Também é o nome de peças que se inserem em outras, na área da mecânica.
Incerto – duvidoso; impreciso; variável; desconhecido.
Frase correta: “Nosso futuro na Copa é incerto.”



Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto