Julho - 2025 - Edição 307

Passante

Em Passante (Ed. Primata), a coletânea de poemas de William Soares dos Santos é enriquecida com ilustrações do próprio autor. São doze belas imagens de cogumelos, feitas em aquarela e guache, que ilustram os textos distribuídos em cinco livros (não necessariamente blocos temáticos), apresentando diferentes enfoques do que é estar no mundo. Desde a tomada de consciência do existir, passando pelos cenários em que o homem passa/ vive momentos transitórios, até a verdadeira aventura que é viver – que exige experimentar, assimilar e avançar espiritualmente. Na apresentação da obra, intitulada “Um poeta pensador”, o crítico literário Krishnamurti Góes dos Anjos analisa o propósito do autor com o estreitamento das distâncias entre as linguagens (visual e verbal): “levando em conta a proposta visual de ilustrar o livro com imagens de cogumelos, identificamos aproximação entre a estrutura da poesia intersemiótica e a ação rizomática. Afinal, o rizoma é contrário à linearidade e aos limites.” William Soares dos Santos (1972) é carioca, professor da UFRJ e escritor. Dentre os seus trabalhos literários se destacam o livro de contos Um Amor e os livros de poesias Rarefeito e Poemas da Meia-noite (e do Meio-dia), livro ganhador do Prêmio PEN Clube do Brasil para livros de poesias publicados em 2017.

A Casa do Morro Branco e Outras Histórias

A Casa do Morro Branco e Outras Histórias (Grupo Editorial Record) traz nove contos breves de Rachel de Queiroz, uma das maiores escritoras da língua portuguesa. O livro, que estava há anos esgotado, retornou ao catálogo da José Olympio com novo projeto gráfico. Na capa, uma obra de Tarsila do Amaral. Na antologia, Rachel de Queiroz mostra todas as características que a consagraram no panteão literário nacional. Conhecida pelas narrativas longas – seu primeiro romance, O Quinze, escrito quando tinha apenas 20 anos, é um dos maiores clássicos do país –, a autora articula, de forma magistral, elementos da experiência universal com traços regionais, em especial do Nordeste brasileiro, onde nasceu. O jornalista e escritor José Nêumanne Pinto afirma que “A prosa curta da romancista é escorreita e crua, sem subterfúgios nem tergiversações: adjetivos são dispensados sem cerimônia, prevalecendo a força dos substantivos comuns, enfileirados com argúcia e sensibilidade”. Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras e também a primeira mulher a ser agraciada com o Prêmio Camões, maior honraria dada a escritores de língua portuguesa. Faleceu no Rio de Janeiro, em 2003, aos 92 anos.

Poemas de Niterói – Volume V

Em Poemas de Niterói – Volume V, editada pela Ibis Libris, Marcos Jorge Nasser reafirma sua vocação poética em nova coletânea na qual discorre sobre temas que vão da vida cotidiana a questões metafísicas e existenciais. Artesão laborioso do verso, o autor reafirma sua vocação poética e sua dicção própria, ilustrando a própria obra. Artista visual sensível, o poeta reúne textos nos quais discorre sobre questões existenciais e metafísicas, abraçando temas como o amor (do alvorecer a seu ocaso), a existência humana (e seu estar no mundo), a relação com o tempo e a finitude. Tais temas são desenvolvidos numa poética de estilo e dicção próprios, como destaca o poeta e compositor Lula Basto, no prefácio: “Chama a atenção a impositiva maturidade artesanal, prenhe de arcabouços poéticos, que se autodefinem por seu teor singular, por seu narrar literário personalíssimo.” Marcos Nasser tinha 9 anos quando chegou a Niterói, aonde o pai imigrante levou a mulher e os seis filhos. Escreveu, ainda na juventude, os primeiros versos. Sua poética não está circunscrita a Niterói. A cidade é o ponto de partida para o escritor girar seu caleidoscópio e alargar seu olhar e sua fala ao mundo e à vida em si.

Cardápio

Terceiro livro da escritora Sara Lovatti, Cardápio (Ed. Cousa) traz a mulher contemporânea para o centro de uma narrativa que perpassa diferentes gêneros textuais, incluindo crônicas, contos e cartas. Com 156 páginas, a obra conta com 19 textos que se entrelaçam por meio do olhar da mulher sobre a vida e o cotidiano, com foco em suas relações afetivas, a vida familiar, a amizade e os desenlaces amorosos. No prefácio, a professora e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Maria Amélia Dalvi, assinala que Cardápio inscreve o nome de Sara Lovatti na literatura contemporânea produzida por mulheres no Brasil e, particularmente, no Espírito Santo. Graduada em Letras – Português/Espanhol pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Sara Lovatti possui Mestrado em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde, atualmente, é doutoranda. A autora pesquisa a poesia de mulheres latino-americanas a partir de uma perspectiva decolonial. Além disso, é professora de Espanhol no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), vinculada à Coordenadoria do Proeja – Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Sara Lovatti é autora de três livros: Desconverso (Cachoeiro Cult, 2016), Estilhaço (Pedregulho, 2021) e Cardápio (Cousa, 2025).

Borda (mais alguma poesia)

Borda (mais alguma poesia), Editora Numa/2025, é o novo livro da poeta e produtora cultural Flávia Souza Lima. Trazendo na orelha traz, na orelha comentários das cantoras Leila Pinheiro e Joyce Moreno, dividida em seis partes, a coletânea é apresentada pela designer Nana Pontes, para quem a autora “tem a escuta e o olhar extremamente atentos às palavras – seus significados e desdobramentos”. O mar se faz presente como cenário, personagem, pano de fundo ou na (an) coragem para a poeta ir adiante. A relação da autora com sua vocação é a tônica de Beira, primeira das seis seções entre as quais o livro se divide. “isso não é hora de escapar/digo ao poema/e mesmo assim/a palavra derrete/ e o verso escorre/por entre os dedos da tarde”, lamenta ela sem entregar os pontos, ainda que o poema seja, como ela reconhece, “pura neblina”. Realizadora cultural das mais atuantes na cena carioca, Flávia Souza Lima é jornalista e podcaster. Entre seus feitos, o Poemúsica Festival, que promove conversas e apresentações sobre as intercessões entre a poesia literária e a letra de música. Entre seus livros publicados estão Sobre-viver (1989), O avesso do grão (1991) e Desjeitos – Alguma poesia (2021), Editora Numa.

70 anos de Colunismo Social de Hélio Dórea

A obra 70 anos de Colunismo Social de Hélio Dórea (2025) celebra a história do jornalista que eternizou os grandes momentos da sociedade capixaba. Aos 94 anos, Hélio Dórea é o jornalista mais longevo do mundo em atuação diária. Para contar a história dessa trajetória única de um recordista, Lino Resende compilou momentos inesquecíveis de sua carreira e grandes momentos que marcaram gerações. Nascido no interior da Bahia, em Feira de Santana, Hélio Dórea viveu na fazendo dos pais até sair para o curso de Farmácia, em Salvador. Em seguida, foi morar em Vitória para fazer o vestibular de Odontologia. Formado dentista, nunca pensou em ser jornalista, carreira que iniciou por acaso, substituindo um colega colunista de O Diário, que precisou viajar. O que era para ser temporário, virou carreira. De O Diário mudou- -se para A Gazeta, onde permaneceu por 44 anos. Iniciou como colunista, passando a ser também diretor comercial. Primeiro chefe do cerimonial do Palácio Anchieta (Palácio do governo do Espírito Santo), o jornalista viveu uma trajetória de glamour, acompanhando os momentos sociais e políticos mais importantes do Estado. Como legado, ajudou a estruturar o curso de Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).