Março - 2024- Edição 299

Tópicos de judaísmo

Em Tópicos de Judaísmo – Por um significado melhor do que representa o povo de Israel (Ed. Consultor, 2023), Arnaldo Niskier reúne uma série de artigos e matérias de relevo, formulados ao longo de sua profícua trajetória, em que se pode notar o profundo apreço pelo povo, sabedoria e tradições judaicas. Primeiro brasileiro judeu a figurar nos quadros da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1984, Niskier destaca a diferença de conceituação entre o “ensino judaico” e “educação judaica”, enfatizando que teoria e prática devem andar sempre juntas: “A educação é o meio pelo qual a sociedade transmite seus princípios e valores. Reforçando a educação reforçamos o conhecimento do mundo, tomando-nos capazes de aperfeiçoá-lo.” Em seu 165º livro, o acadêmico demonstra não só uma cultura privilegiada, como também a paixão por suas raízes. Ao longo da obra, alguns artigos fazem ponte com o judaísmo no Brasil, tais como O olhar judaico em Machado de Assis, A contribuição dos judeus ao desenvolvimento brasileiro, Vieira e o humanismo judaico e Recife, a rocha de Israel. A epígrafe escolhida pelo jornalista Roberto Muggiati para abrir o prefácio (intitulado “Um iluminista moderno”) ilustra bem a sabedoria de Arnaldo Niskier: “Sem conhecimento não há compreensão, sem compreensão não há conhecimento.”

Sem pai nem mãe

Ao longo das 176 páginas de Sem Pai Nem Mãe (Ed. Máquina de Livros), Claudia Giudice faz um relato emocionante e arrebatador. Como afirma na apresentação Cynthia de Almeida, jornalista e cocriadora do projeto Vamos Falar sobre o Luto?, o livro é “o tempo todo, uma linda história de amor, que se agiganta perto do fim. E não acaba nunca”. Claudia Giudice descobriu simultaneamente que os pais estavam com cânceres em estágio terminal. Ela transformou o luto antecipado em um diário, escrito quase em tempo real, que trata das urgências, mas também dos momentos de felicidade entre a perda do pai, Paulo, e da mãe, Marina, num intervalo de apenas seis meses. Com relatos que vão do primeiro susto ao último suspiro, a autora nos leva, generosamente, por cada passo de uma jornada dura, sensível, cheia de afeto, luta pela vida e aprendizado da aceitação da morte. Paulistana, Claudia Giudice é autora do livro A Vida sem Crachá (Ediouro/Happer Collins, 2015) e coautora de Arembepe, Aldeia do Mundo (Máquina de Livros, 2022). Graduada em Jornalismo pela PUC-SP, mestre em Jornalismo Comparado pela ECAUSP, trabalhou como jornalista por 30 anos. Atualmente, é empresária e sócia-proprietária da pousada A Capela, em Arembepe, na Bahia.

A alma das palavras

O livro A Alma das Palavras (ou lições que nada ensinam), Editora Kelps (2023), do poeta goiano Gabriel Nascente, é uma homenagem ao aparecimento de dois jovens poetas promissores que, segundo o autor, “vão capitanear a nova geração de versejadores goianos”. A aposta nos talentos de Maria Clara Cardoso e Estevão Freitas resultou na compilação dos textos reunidos nas 73 páginas deste livro, feito, segundo declarado no texto de apresentação, como “homenagem ao aparecimento de dois jovens poetas, literariamente rebeldes em seus arroubos de juventude.” Na orelha, o presidente da UBE (Goiás), Ademir Luiz, afirma: “Certamente, poetas são como cavaleiros jedi e saiyajins: eles se reconhecem. Eu que sou apenas um pobre e pedestre prosador, só posso esperar para ver, acreditando no melhor. Quero crer que Gabriel Nascente tem dois valetes escondidos na manga. Em breve, vai bater na mesa e gritar ‘truco’.” Nascido em Goiânia, em 23 de janeiro de 1950, o jornalista e poeta Gabriel Nascente escreveu e editou mais de 60 livros, incursionando-se pelos gêneros do ensaio, da ficção, reportagens, narrativas, crônicas e poesia. Membro da Academia Goiana de Letras, sua poesia mereceu, do acadêmico Carlos Nejar, da Academia Brasileira de Letras, elogioso texto no livro História da Literatura Brasileira.

Pensares

Em tom lírico de despedida, o escritor José Carlos Gentili lançou a coletânea de poesias Pensares (Editora Kelps, 2023). Com projeto gráfico, diagramação e capa de Welber Costandrade, a obra tem a orelha assinada pelo imortal Arnaldo Niskier, que aponta o alicerce poético camoniano do autor: “A visão camoniana do acadêmico José Carlos Gentili está presente ao longo de todos os versos desta obra. Cada tempo tem o seu estilo. Ao estudar as formas mais apuradas da linguagem, desentranham-se mil riquezas, que, à força, de velhas se fazem novas. Nem tudo tinham os antigos, nem tudo têm os modernos. Com os haveres de um e de outro é que se enriquece o pecúlio comum.” A beleza e encantamento são despertados na poesia que o professor Gentili nos entrega como “um relâmpago no céu da memória”, onde um dos versos afirma: “Somos muitos dentro de nós mesmos.” Membro da Academia de Letras de Brasília desde 10 de outubro de 1989, por seus relevantes serviços, em 30 de junho de 2016, foi-lhe dado o título honorífico de Presidente de Honra Perpétuo da Academia de Letras de Brasília. Entre outras instituições, José Carlos Gentili também integra a Academia das Ciências de Lisboa, como correspondente brasileiro.

Melhores Contos Marcos Rey

Em sua terceira edição, Melhores Contos Marcos Rey foi publicado pela Editora Global em formato pocket. Com toque de folhetim, escrito em estilo direto e narrado num ritmo envolvente, a narrativa mantém o leitor atento, com fôlego curto, ansioso por conhecer o destino das personagens. São nove contos do autor paulistano, em uma seleção feita pelo crítico literário Fábio Lucas. Dos textos escolhidos, os mais conhecidos dos leitores são O Enterro da Cafetina e Eu e meu Fusca. Com diversos livros publicados na famosa Coleção Vaga-lume, como O Mistério de 5 Estrelas e O Rapto do Garoto de Ouro, Rey recebeu vários prêmios literários, como Jabuti e Juca Pato, e foi eleito para a Academia Paulista de Letras, em 1986. Nascido em 1925, em São Paulo, publicou o seu primeiro conto aos 16 anos no jornal Folha da Manhã, já fazendo uso do seu pseudônimo. Teve um vasto trabalho literário em vida, sendo o responsável por uma das adaptações do Sítio do Picapau Amarelo para televisão. Cronista, contista e roteirista de rádio, televisão e cinema, além de participações em textos para programas de humor, novelas, minisséries e publicidade, faleceu em São Paulo, em 1o de abril de 1999

Confesso

Confesso (Ed. Nauta), primeiro romance de Sergio Ricardo do Amaral Gurgel, prende-nos a atenção pela profundidade da narrativa, mesclando toques de humor e reflexões filosóficas, aliados ao vasto conhecimento que o autor possui sobre os meandros da justiça brasileira. A história apresenta o advogado Marlon, ponderando sobre como defender um cliente que confessa um crime hediondo. Diante do caso, o personagem se sente moralmente pressionado. Em dúvida de como agir juridicamente, enquanto reflete sobre a situação, parte numa busca que traz mais respostas sobre si mesmo do que sobre o caso que tem em mãos. “O destino do homem é implacável! Tudo se resume a seguir a trilha que nos leva à caixa de concreto sobre a terra úmida ou ao fogo que reduz o corpo a uma nuvem de fumaça e pó. Não passamos de um aglomerado de tolos presos a uma conta que não fecha sobre a ilusão de sermos eternos”, diz um trecho do livro. Sérgio Ricardo do Amaral Gurgel é advogado criminalista e professor de Direito Penal. Publicou diversas obras jurídicas e artigos na Folha de S. Paulo, Estadão e Correio Braziliense. É coautor do livro Da Locomotiva à Máquina de Escrever (Chiado, 2018), biografia do precursor das telenovelas Amaral Gurgel, seu avô paterno.