Novembro - 2020 - Edição 261

Resumo da balada

Com 74 crônicas distribuídas em 260 páginas, a Editora Maré lançou Resumo da Balada (2020), de Luiz Trevisan. A coletânea resulta de uma seleção entre mais de 200 textos publicados de 2016 a 2019, em jornais, revistas, livros, blogs e sites. Algumas crônicas são inéditas, como as que envolvem a pandemia. Refletindo sobre tempos distópicos, os temas variam da diversidade de gênero, celibato, conversas triviais, redes digitais, relações virtuais, passando por memórias de viagens, futebol, música, literatura, cinema, política e cultura, em geral. Tudo sem perder as rédeas de uma prosa leve, bem-humorada e afiada, respaldada pela experiência de 40 anos de jornalismo diário de um observador atento do cotidiano, que busca a intercessão entre a realidade e a ficção, com firmeza. Como resultado, o leitor é brindado com um estilo peculiar de narrativa, onde a forma fluida e primorosa se sobrepõe a um conteúdo que pode parecer corriqueiro, mas se engrandece pelo correr da pena do autor. Segundo a professora Iluska Coutinho, pós-doutora em Comunicação, “Trevisan mostra, em suas crônicas, o olhar atento do bom repórter. Sonoras, elas ampliam horizontes, tempos, ritmos e repertório dos leitores.” O escritor, músico e jornalista Luiz Paulino Trevisan nasceu em 24 de janeiro de 1950, em Castelo, no Espírito Santo. Atuou por mais de 40 anos no jornalismo capixaba, onde exerceu as funções de repórter, redator, editor e colunista, em jornais, rádio, televisão, assessorias e portais. É autor de documentários, como Cachoeiro em Três Tons (1994), e gravou dois discos autorais, Depois da Chuva (2003) e Independência ou Marte (2012).

A era dos desafios

Nas 126 páginas de A Era dos Desafios – a humanidade e os dilemas de sua permanência (Ed. Quadrante, 2020), o autor Ives da Silva Gandra Martins reúne erudição e poder de síntese, percorrendo o passado da humanidade para afrontar os desafios que se desenham no futuro. Como as nações atenderão às crescentes demandas por direitos sem sufocar seus cidadãos? Que problemas o avanço tecnológico vai gerar para aqueles que não se adaptarem? E o meio ambiente? Na introdução, o autor explica que o livro já estava pronto quando o mundo foi surpreendido pela pandemia do novo coronavírus. A obra aborda questões que continuam sendo objeto de reflexão do ser humano, reiterando a aposta otimista do jurista na capacidade de cooperação e superação da humanidade. A trajetória do ser humano sobre a Terra é, eminentemente, uma trajetória de sucesso, ainda que marcada em diversos pontos por acontecimentos tristes. Dividido em 12 partes, o livro aborda desde as “Origens”, na dimensão do tempo com um Universo ainda desconhecido, passando pelo século XIX e os primeiros desafios, a revolução dos direitos do século XX, as questões (jurídica, econômica, demográfica, ambiental, tecnológica, política e de valores), a paz mundial e o Estado Universal. Ives Gandra da Silva Martins, nascido em São Paulo no dia 12 de fevereiro de 1935, é professor emérito da Universidade Mackenzie, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, além de professor honorário de várias universidades, entre elas, a Austral, na Argentina, e a Vasili Goldis, na Romênia. Presidente do Conselho Superior de Direito da FECOMÉRCIO-SP, é autor de mais de 90 livros. Membro, entre outras instituições, da Academia Paulista de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia.

Pontes de Miranda

Organizada pelo jornalista e escritor Ivan Bezerra de Barros, a obra Pontes de Miranda – o gênio da ciência jurídica (Editora Q-Gráfica, 2020) relata com maestria a trajetória biográfica de um dos expoentes máximos da cultura jurídica mundial. Do nascimento, no dia 23 de abril de 1892, – definido pelo autor como “data de uma luz que iluminou o século vinte” –, passando pela trajetória de vida, pela extensa obra jurídica, pelas correspondências, pelos discursos valorosos, incluindo o de posse na Academia Brasileira de Letras, a obra é encerrada com um precioso anexo contendo fotos históricas do acervo iconográfico do biografado.
Na introdução, algumas palavras de Silvio de Macedo antecipam a importância literária do livro: “Ivan de Barros, realizando sua obra literária, foi muito feliz em assumir a incumbência de biografar Pontes de Miranda, um homem versado em quase todos os ramos das ciências. Era o cientista da cultura poliédrica. A biografia está cheia de comprovações neste sentido, acontecendo, justamente, num momento em que a Nação Brasileira atravessa uma fase cruciante de sua história política e social, quando se impõe reflexão profunda sobre os ensinamentos do respeitável jurista.” Jornalista, advogado, promotor de Justiça aposentado do Ministério Público de Alagoas, Ivan Bezerra de Barros foi repórter da revista Manchete. É membro decano da Academia Alagoana de Letras, fundador e presidente da Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes, fundador do jornal Tribuna do Sertão e Rádio Cacique.

A história de detetives

A literatura policial do criador do delegado Espinosa inspirou o novo livro de André Amado, A História de Detetives e a Ficção de Luiz Alfredo Garcia-Roza (Ed. Ibis Libris, 2020). Oitavo livro de André Amado, que estreou na literatura em 1989 e escreveu três romances policiais, a obra analisa minuciosamente a ficção de Garcia-Roza, traçando um painel esclarecedor sobre autores fundamentais da ficção policialesca. Segundo o próprio autor explica na introdução, a análise dialógica da obra de Roza parte de uma visão sincrônica, não se centrando em livro por livro, mas em temas que perpassam horizontalmente os textos: “Interessa abordar os múltiplos aspectos do personagem central, Espinosa, sua visão do ofício de policial, suas experiências afetivas com mulheres, a presença da solidão e da depressão em seu universo afetivo, suas relações com a psicanálise e a cultura, e a técnica do autor em lidar com o suspense, sua definição de inescrutabilidade e a tendência a arrematar as histórias sem fechar a narrativa, optando, em geral, por finais abertos.” André Mattoso Maia Amado nasceu no dia 15 de fevereiro de 1946, no Rio de Janeiro. Cursou a Faculdade de Sociologia na PUC-Rio, e formou-se no Instituto Rio Branco. Diplomata aposentado, com 48 anos no serviço exterior, foi embaixador em Lima, Tóquio e Bruxelas. Entre os livros publicados, estão Desde os Tempos da Esquina (Record, 1989), A Casa de Dona Iolanda (Maltese, 1992), Exílio Nacional (Topbooks, 2001 – Prêmio Nacional de Literatura Luiza Claudio de Sousa de 2002), Clube dos Injustiçados (Record, 2013), Ao Lado da Lei (Lisboa, Chiado, 2014) e O Corpo (Verve, 2016).

O menor amor do mundo

O Menor Amor do Mundo (Ed. 7 Letras, 2020) é a quinta coletânea do poeta e professor carioca Rafael Zacca. Amor e resiliência estão entre os temas iluminados pelo autor, ao longo de 107 páginas, retratando do sublime às agruras da vida, a exemplo do poeta Wally Salomão (1943-2003) – não por acaso uma de suas inspirações. Dos anjos imortalizados em aquarela e pastel pelo pintor alemão Paul Klee (1879-1940) a uma acalorada discussão no Codorna do Feio, o tradicional boteco no Engenho de Dentro – numa recriação de O Banquete, a obra-prima de Platão, os textos são costurados com primor à sonoridade do seu discurso. A obra é dividida em três partes. A primeira dá título à coletânea, composta por 11 poemas inspirados nos anjos criados por Paul Klee. Todos esses nomes de pássaros estranhos compõem a segunda parte. Nela o leitor encontra nove textos nos quais o poeta direciona seu olhar para situações que remetem à sua formação como indivíduo. Considerações sobre Eros e Thanatos – personificações do Amor e da Morte, respectivamente – dão a tônica da última parte da coletânea, O banquete no Codorna do Feio. A alusão a O Banquete platônico não é em nada aleatória. Rafael Zacca é poeta e professor universitário. Doutor em Filosofia pela PUC-Rio, é professor no departamento de Filosofia da mesma instituição e professor substituto no departamento de Ciência da Literatura do Instituto de Leras da UFRJ. Estreou na Literatura com Kraft (Cozinha Experimental, 2015) e é autor também de Mini Marx (7Letras, 2017), Mega Mao (Caju, 2018) e de A Estreita Artéria das Coisas (Garupa, 2018). Coordena oficinas de criação no Coart/UERJ e na 7Letras. Foi co-organizador do coletivo Oficina Experimental de Poesia, através do qual publicou o Almanaque Rebolado (várias editoras). Como crítico, colabora com o jornal Rascunho e assina, na revista Pessoa, a coluna Como prática da liberdade, sobre arte, educação e política

No labirinto do cérebro

A ideia de escrever No Labirinto do Cérebro (Ed. Schwarcz, 2020) surgiu da enorme curiosidade despertada entre os familiares e amigos do neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho em torno de seus casos médicos. A força da palavra não será plena se não estiver envolvida por um amplo espírito social. A obra do consagrado médico está profundamente ligada ao seu interesse pelo ser humano. Niemeyer testemunhou uma época em que a neurocirurgia era uma especialidade que engatinhava, misteriosa, e na qual havia muito por fazer. Desde então, a neurociência se desenvolveu e passou a interessar a um público cada vez mais amplo. Pela sua capacidade de interação com os diferentes aspectos da vida, No Labirinto do Cérebro traz um relato intenso sobre a prática diária da medicina, oferecendo histórias de superação, abordando riscos enfrentados no combate às doenças cerebrais, incluindo os preparativos e os desafios que envolvem uma cirurgia. O resultado mantém intocadas as permanentes vocacionais do autor que registra, em texto fluido e muito bem elaborado, sem fechar as portas a entendimentos de qualquer nível. Considerado um dos melhores neurocirurgiões do país, o carioca Paulo Niemeyer Filho é formado pela UFRJ. Estudou em Londres e nos Estados Unidos. Em 1979, foi nomeado diretor do Instituto de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia. É diretor no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC), membro da Academia Nacional de Medicina (ANM) e professor de neurocirurgia da PUC-Rio.