Outubro - 2020 - Edição 260

Revista Academia Espírito-Santense de Letras

A Academia Espírito-santense de Letras vai completar 100 anos no próximo ano. É a segunda entidade cultural mais antiga do Espírito Santo em atividade (só antecedida pelo Instituto Histórico e Geográfico do ES, de 1916). A Revista anual – edição 2019 comprova a manutenção da vitalidade e da robustez da obra de seus associados, guardiões da memória literária capixaba. De acordo com o ex-presidente, o acadêmico Francisco Aurélio Ribeiro, autor da apresentação da obra, “A AEL tem por finalidade o cultivo da língua nacional e das Belas Artes, dentro do espírito de fraternidade que vincula o Espírito Santo aos demais estados brasileiros e países do mundo”. A publicação oferece textos de 17 acadêmicos, entre eles “Intercomunicação em obras literárias”, da atual presidente da AEL, Ester Vieira de Oliveira, entre outros igualmente recomendados. Mas não podemos deixar de destacar, porém, os discursos de saudação (pronunciado pelo acadêmico Fernando Antônio Achiamé) e de posse do acadêmico Sérgio Luiz Blank, na cadeira 9, no dia 22 de julho de 2019. O poeta faleceu exatamente um ano depois, no dia 22 de julho deste ano, aos 56 anos. No final do texto, Blank encerrou com um breve poema da americana Emily Dickinson: “Bebeu palavras preciosas./ Seu espírito cresceu forte./ Não mais sentiu que era pobre/ E sua memória pó./ Em dias sombrios dança/ E neste legado de asas/ Não foi mais que um livro. Um só./ Que voo sereno e certo/ O de um espírito liberto!”

O entregador de sentimentos

Em O Entregador de Sentimentos (Ed. Leya, 2020), Gabriel Chalita reúne algumas crônicas que foram publicadas no jornal O Dia. Em 224 páginas, expressa o encantamento provocado pelo cotidiano, observando não só o mundo externo, como também o interior do ser humano que, como descreve no título, é um “entregador de sentimentos”. Dividido em quatro temáticas, o livro tem, na primeira parte, crônicas agrupadas. Primeiro, “Sobre a família”. Em seguida, estão “Sobre o amor e, às vezes, a dor”; “Sobre a amizade” e “Sobre alguns outros sentimentos”. O denominador comum que nos une a personagens retrabalhados pela escrita de Chalita é a humanidade compartilhada, com muitas lições e histórias que são resíduos do nosso próprio cotidiano. O autor domina, com maestria, as fronteiras entre a realidade e ficção, deixando para o leitor a generosidade de preencher as entrelinhas. Nascido em 30 de abril de 1969, em Cachoeira Paulista (SP), Gabriel Chalita publicou seu primeiro livro aos 12 anos. É graduado em Filosofia e Direito e tornou-se mestre em Ciências Sociais, Doutor em Comunicação e Semiótica e também em Direito. Na carreira acadêmica, orientou mais de 300 bancas de mestrado e A Ética do Rei Menino; O Pequeno Filósofo; Pedagogia do Amor; Sócrates e Thomas More – correspondências imaginárias e Os 10 Mandamentos da Ética. No Brasil, na América Latina, Europa e Oriente Médio, vendeu mais de 10 milhões de cópias. Foi secretário da Educação do Estado e do Município de São Paulo, além de vereador e deputado federal. Chalita é professor dos cursos de graduação e pós-graduação nas universidades PUC-SP, Mackenzie, IBMEC e Uninove. É membro da Academia Brasileira Paulista de Letras.

João Paulo II – o cura da aldeia global

A obra João Paulo II – o cura da aldeia global (Ed. Batel, 2020), em edição revista e atualizada, relata episódios vividos pelo professor Tarcísio Padilha junto ao Sumo Pontífice, com reflexões sobre a obra e a trajetória do Santo Padre, o Papa. Com 178 páginas, o livro tem o prefácio assinado pela professora Maria Clara Bingemer, decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Um dos fundadores da Faculdade de Filosofia no Brasil e membro da Academia Brasileira de Letras, Padilha representou, durante 12 anos, junto com sua esposa Ruth, a “Família Brasileira” perante o Vaticano. Isso significava viajar por conta própria, duas a três vezes por ano, para estar com João Paulo II, e conversar com ele sobre as questões da família contemporânea. Desses encontros resultou João Paulo II – o cura da aldeia global, publicado originalmente em celebração à visita de Sua Santidade ao Rio de Janeiro, em 1997. Na ocasião, o autor explicou sua amizade com o Papa: “Com João Paulo II, sinto uma identidade muito grande. Não quero ser mal-entendido ou sugerir que havia intimidade entre nós. Significa que eu me baseio nos pronunciamentos dele, em seus livros e nos contatos que tive com ele, a dádiva de estar em sua presença. Ele gostava de ouvir, dava liberdade aos outros para falar.” Tarcísio Padilha foi professor Titular de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, professor de História da Filosofia da PUC-Rio, professor de Filosofia, Pedagogia e Sociologia da Universidade Santa Úrsula, professor de História da Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Departamento de Filosofia e coordenador do Mestrado e do Doutorado em Filosofia da Universidade Gama Filho. É membro fundador do Collegium Academicum Universale Philosophiae (Atenas), da Asociación Interamericana de Filósofos Católicos (da qual também foi vice-presidente), presidente da Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos e da Association Louis Lavelle (da qual foi conselheiro e é membro honorário). Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1997, da qual foi presidente em 2000 e 2001. Os títulos disponíveis de sua Obra Reunida são: João Paulo II: o cura da aldeia global; História e Filosofia – reflexões sobre a condição humana; Literatura e Livre Pensar e Crônicas para um Mundo Melhor, todos da Ed. Batel.

O poético como humanização

O Poético como Humanização em Miguel Torga (Casa de José de Alencar/UFC, 1997) surgiu da tese de Doutorado (defendida em 1985) do então professor de Literatura Portuguesa na Universidade Federal do Ceará, Linhares Filho. Ampliada e adaptada às conveniências editoriais, a robustez da obra mereceu elogios da acadêmica Cleonice Berardinelli: “Sua capacidade de trabalho, o afinco com que pesquisa, a seriedade que põe em tudo que faz, a inteligência e o senso crítico de que é dotado – tudo isso apreciado ao longo de muitos anos de convívio intelectual e humano – permitem-me afiançar a sua competência para qualquer tarefa a que se proponha.” Os elogios não pararam por aí. Também na contracapa do livro, o poeta e crítico literário Gilberto Mendonça Teles, da Academia Goiana de Letras, recomenda a leitura: “Vejo na sua tese um trabalho excelente.” Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará, Linhares Filho é graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e fez mestrado e doutorado em Letras Vernáculas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É vencedor de vários prêmios, como os da Secretaria da Cultura do Ceará – pela obra poética Tempo de colheita (1987) e pelo ensaio O poético como humanização em Miguel Torga (1997) – e menção honrosa do Prêmio Esso de Jornalismo (1966). Publicou, entre outros títulos, O Amor e Outros Aspectos em Drummond (2002); A Modernidade da Poesia de Fernando Pessoa (1998); Itinerário: trinta anos de poesia (1998); Rebuscas e Reencontros (1996); Ironia, Humor e Latência nas Memórias Póstumas (1992); Voz das Coisas (1979) e A Metáfora do Mar no Dom Casmurro (1978).

Com a sorte da palavra

Com a Sorte da Palavra – textos publicados reunidos (2020) é o título do primeiro livro de crônicas de Manoel Goes Neto, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha. A obra, em caprichada edição, traz 44 textos selecionados e publicados pelo autor em jornais, revistas, antologias e sites, desde 2016. Com apresentação do ex-presidente da Academia Espírito-santense de Letras, Francisco Aurélio Ribeiro, a publicação tem o prefácio assinado pela acadêmica Bernadette Lyra, que não poupa elogios, recomendando a leitura: “Fazendo uso de uma clareza direta, cristalina e desconcertante, ele percorre e desenvolve tópicos que solicitam e merecem uma leitura participativa, por tão bem estruturados e tão bem pensados se apresentam, confluídos que são na direção de um alerta: é necessário dar atenção aos aspectos culturais que se enraízam, brotam e florescem neste nosso estado, geograficamente limitado entre serras, rios e oceano, situado em uma curva suave, na parte oriental do Brasil.” Goes demonstra na escrita sua inquietude em promover a cultura capixaba. A obra é dividida em seis temas: Cultura, Ensaios, História, Livros, Patrimônio e Voluntariado. Membro da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, o escritor, produtor cultural, curador independente, marchand e palestrante, Manoel Goes Neto é presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha e diretor no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo.

Crônica de Bernatz & Bertran

No romance Crônica de Bernartz & Bertran (Editora Pontes, 2020), Luiz Carlos R. Borges mescla, em 252 páginas, história e ficção, através do itinerário de dois trovadores da época de ouro na França. Em pesquisa robusta, a obra permite o ingresso em escritos da língua do ducado da Aquitânia, convencionalmente chamada língua occitânica (langue d’oc), através do relacionamento de dois monges na abadia cisterciense de Dalon: Bernatz de Ventadorn (poeta lírico por excelência) e Bertran de Born, senhor feudal, ativo participante de episódios históricos na segunda metade do século XII, compôs canções bélicas. Leituras aprofundadas, realizadas durante a confecção do romance, viriam a revelar que Bertran realmente se recolheu à abadia de Dalon: o encontro fictício e imaginário entre os dois poetas passou a se revestir de probabilidade histórica. Luiz Carlos Borges é aposentado da magistratura no Estado de São Paulo. Membro da Academia Campinense de Letras, integra a diretoria do Centro de Ciências, Letras e Artes e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, onde reside. Seu interesse pelos trovadores encontrou origem nas traduções de Augusto de Campos (Verso, Reverso, Controverso) e na obra fundamental de Segismundo Spina (Lírica Trovadoresca). Preciosa é a indicação que faz de suas fontes, agregando considerações que tornam sua obra referência a quantos desejem aprimorar seus conhecimentos sobre a escola provençal.