Agosto - 2020 - Edição 258

Para nunca se sentir só

Para Nunca Se Sentir Só (Ed. Gryphus, 2020) é a primeira obra da jovem poeta Gabriela Zimmer, que já nasce com a potência de deixar o leitor encantado com a sensibilidade dos versos. O talento explícito em 32 poemas, reunidos ao longo de 87 páginas, é ressaltado pelo primor das ilustrações em quatro cores feitas por Hannah Ribeiro. O ato de escrever está presente em vários trechos, em que a jovem declara seu amor pela poesia: “As palavras me consomem quando não escritas e perfuram meu corpo à procura de saída.” O encantamento pela obra de Zimmer se potencializa com a revelação da idade e da trajetória da autora: 15 anos, vencedora de dois concursos (um de redação, em 2019, promovido pelo Sinepe Rio, e um nacional de poesia, organizado pela Editora Vivara). Além de participação em duas coletâneas literárias, é também compositora. Sua canção É Carnaval, em coautoria com Matheus Von Krüger e Wagner Cinelli, é uma das faixas do CD Urca Bossa Jazz no Carnaval, lançado em 2019. É coautora da canção Fique em Casa, tendo também participado do respectivo clipe musical, lançado este ano, juntamente com outros cantores. Para Nunca Se Sentir Só tem o prefácio assinado pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, que destaca o talento da jovem escritora: “Gabriela Zimmer não está interessada em responder qualquer pergunta, certa de que o trabalho que tem pela frente não é esse, mas justo o seu avesso. Inventar dúvidas. Desassossegar os espíritos.” E arremata: “Longe de ser dramática, tem como ponto final a revelação de que a solidão é uma alucinação.”

Consagração à poesia

A obra Consagração à Poesia – poemas, discursos, artigos (Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2017), do poeta Linhares Filho, inicia com uma “explicação” do autor: “Desde os tempos mais remotos, quando me senti poeta, precocemente respirando Poesia, a ela me consagrei do ponto de vista estético.” Dividido em quatro partes, acrescido de um capítulo com a fortuna crítica e outro sobre o autor, o livro oferece, numa caprichada edição de 166 páginas, os mais recentes poemas, inéditos em livro, além dos discursos de agradecimento e de saudação do crítico e poeta Sânzio de Azevedo, na ocasião da consagração de Linhares Filho com o título de Príncipe dos Poetas Cearenses, conferido por unanimidade na Academia Cearense de Letras, em 2016. Em mais de quatro décadas de produção literária, o cearense Linhares Filho soube reinventar sua poesia, transitando entre estilos e mantendo a qualidade literária ao longo do percurso. Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Linhares Filho graduou-se em Letras pela UFC, em 1968. Obteve os títulos de mestre e doutor em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professor da UFC, de 1969 a 2009, quando se aposentou como Professor Titular de Literatura Portuguesa. Entre as diversas funções assumidas ao longo desse período, foi coordenador da Casa de Cultura Portuguesa e do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFC. Em 1980, tornou-se membro efetivo da Academia Cearense de Letras e da Associação Internacional de Lusitanistas.

A poesia de Nei Lopes

Em O Espírito Afro-Latino na Poesia de Nei Lopes (Ed. Scortecci, 2017), a autora Miriam de Carvalho analisa a poética de Nei Lopes, tendo como eixo ideativo o culto à memória dos ancestrais africanos e a relevância da resistência cultural na África e na América Latina ante os padrões ocidentais. Miriam de Carvalho explica, na introdução, que, segundo a tradição ancestral, o sagrado tangencia todas as atividades do cotidiano, não faltando acontecimentos relativos à casa, à rua e à cidade: “A cada verso do poeta, o canto sonoriza-se e transita pelas terras da África e da América Latina, com muitas passagens pelo Rio de Janeiro.” Sendo Nei Lopes também compositor e intérprete, a autora destaca as sonoridades da palavra ritmada, preservando a memória e a presença do espírito negro-africano. Mirian de Carvalho é doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte, da Associação Internacional de Críticos de Arte, da União Brasileira de Escritores (UBE)/RJ e SP e do PEN Club. Atualmente, dedica-se à poesia, à crônica e à pesquisa no campo da cultura brasileira e foi agraciada com vários prêmios literários, entre eles o João do Rio (1º lugar/poesia) e a Medalha José de Anchieta, que lhe foram conferidos pela Academia Carioca de Letras em 2016. Mirian recebeu também vários prêmios na área da ensaística, entre eles o Sérgio Milliet, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), referente a livro de pesquisa publicado em 2016. Além de assinar dez livros de poesia e sete de ensaio, é autora de cerca de 150 textos que se diversificam em artigos, prefácios, posfácios e releases, publicados em mídias especializadas. A autora assina o Blog da Mirian, no Digestivo Cultural.

Poemas bilíngues

Poemas/versek (Ed. Kelps, 2011), da coleção Novos Rumos, apresenta a poesia de Alice Spíndola numa coletânea bilíngue, em português e húngaro, na versão de Lívia Paulini, que afirma: “Ao traduzir os poemas para o húngaro, reforça-se a ideia em divulgar uma poetisa brasileira comprovadamente autêntica no sentido de dar ênfase aos problemas do dia a dia na sua expressão de arte na cultura.” A leitura passa por temas variados, do mar aos rios, sofrendo pelas agressões do homem, terras e almas nos seus caminhos tortuosos, desfrutando da potencialidade de seus conhecimentos sobre o espírito e a natureza, do meio ambiente aos problemas essenciais à sobrevivência terrena, incorporados dentro dos símbolos. Segundo Lívia Paulini, Alice Spíndola, “enraizada na filosofia clássica, profetiza os sons futuros na literatura”. Alice Spíndola, escritora nascida em Nova Ponte, Minas Gerais, onde é cidadã benemérita, vive em Goiânia. Licenciada em Letras Anglo-Germânicas pela Universidade Católica de Goiás, poeta notável pelas suas premiações nacionais e internacionais, em 2014, representou o Brasil no XVII Encontro de Escritores Ibero-americanos, em Salamanca, Espanha. Lívia Paulini é húngara de nascimento. Escritora, poeta, tradutora e pintora, possui mais de vinte e seis publicações entre romances, poesias, ensaios e traduções. Vive em Belo Horizonte, onde é membro fundadora de entidades culturais e filosóficas.

Mãos limpas, coração quente

Mãos Limpas, Coração Quente (Ímã Editorial, 2018), de Esther Rodrigues, traz lembranças de um brasileiro que viveu na União Soviética, nos anos em que nascia a ditadura militar em nosso país. Maria Esther Paes Barreto Rodrigues é formada em biblioteconomia e dedicou boa parte de sua vida à família, que inclui três filhos e quatros netos e ao trabalho voluntário em hospitais e asilos. Recentemente, decidiu que transformaria o prazer de escrever para amigos em algo concreto. Em seu primeiro livro, inspirou-se na vida do marido, Obertal Mantovanelli, realizando uma pesquisa sobre a União Soviética e trazendo dados históricos com informação, cultura e diversão. Vinda de uma família de jornalistas renomados, a começar pelo seu avô – o pioneiro Mário Rodrigues, dono dos jornais A Manhã e Crítica, empastelado na Revolução de 1930, seu pai Augusto Rodrigues, criador e diretor da Manchete Esportiva e que foi também secretário de redação do jornal O Globo e seus tios Mário Filho, dono do Jornal dos Sports e Nelson Rodrigues, nosso dramaturgo maior. Com um texto leve, fluente e muito bem alinhavado, a autora exibe uma visão privilegiada da guerra entre duas forças – os soviéticos comunistas e os americanos capitalistas – que se demonizavam, mutuamente. Questões de vital importância, com uma visão diferenciada, são desenvolvidas com muita sensibilidade. No prefácio, Nélson Rodrigues Filho afirma: “Um documento importante de vida de um indivíduo que pôde comparar realidades, algo semelhante, entre um Brasil dos anos de chumbo e um momento ultrarrepressivo do ‘Socialismo num só Estado’. É muito rico o depoimento de Obertal. É excelente este livro, escrito com a força de uma vibrante mulher que conseguiu, com rara maestria, nos relatar parte importante da vida de seu companheiro e nos passar instantes raros de emoção. Esther consegue, com seu belo estilo, harmonizar, com talento, tema tão complexo num mundo mais complexo ainda.”

Vivências II

A palavra “antologia” nos remete aos gregos em seu significado (“coleção de flores”) para denominar um conjunto de textos em poesia e prosa. A obra Vivências II (AFESL, 2016) reúne textos de 29 representantes da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, compiladas numa antologia que se reveste com o colorido subjetivo de modos distintos de ver a vida. Ao longo de 196 páginas, o resultado apresentado é comparável a um coral de vozes delicadas, com toques de graça e requinte, que se apresentam em harmonia coletiva. Na orelha da publicação, a escritora Marilena Soneghet destaca essa polifonia, que realça as qualidades individuais, e defende o sopro vital de reflexões que se refletem numa consciência literária especificamente feminina: “Vivências é o resultado da livre escolha, com autenticidade e autonomia. De idades variadas, diferentes profissões ou apenas dedicadas à família. Algumas melancólicas, outras cheias de projetos, curiosas ou evocativas, saudosistas ou arrojadas, simples ou eruditas – o importante é que ousam mostrar-se, participam, falam do seu estar no mundo, indiferentes a rótulos ou ao ranço do preconceito.” Na apresentação, a acadêmica Ailse Cypreste Romanelli destaca a importância das Academias de Letras: “Além de rimar e sonhar, trocamos vivências e partilhamos nossos sonhos e nossa alma. Fazer literatura é um exercício de sensibilidade. Não importa saber se um texto cumpriu ou não uma finalidade; o que importa saber é o quanto aqueceu o coração, enriqueceu a mente ou iluminou um instante da vida. Ninguém é cobrado a ter ideias geniais ou corretas, apenas que deixe fluir a criatividade, em prosa ou em versos, com rima ou sem rima, ou simplesmente com a presença e a participação.”