Para não errar novamente

Com a imposição do isolamento social, leitura, pesquisa, produção de textos e aulas virtuais preenchem o tempo e enriquecem o pensamento. Na coleta de material para a produção de aula virtual para professores de Salas de Leitura, resolvi ler detalhadamente os Guias do PNLD 2018, produzidos pelo FNDE/MEC, destinados à escolha de livros pelas escolas da rede pública.

Na apresentação, comum aos Guias da Educação Infantil, Ensino Fundamental (séries iniciais) e Ensino Médio, é feita referência à apresentação facultativa de material de apoio nesse primeiro formato do PNLD literário:
“A escolha dos livros pode ser por obra com a presença ou não do material de apoio, afinal, muitas obras aprovadas oferecem excelentes possibilidades e alternativas metodológicas de leitura e outros trabalhos didáticos. Além disso, você, professor(a), certamente saberá qual a melhor maneira de explorar a leitura literária em sala de aula e de proporcionar a fruição dessas obras de acordo com seus objetivos e planejamento do trabalho pedagógico em sua(s) turma(s).”

Esta afirmativa se aplica a todas as obras literárias, que não necessitam de manuais de apoio forçados para atividades didáticas e desonerariam as editoras do alto custo para a preparação desses manuais. Cabe aos professores enriquecer a leitura literária.

Nos créditos, consta a Universidade Federal de Alagoas – UFAL, como a instituição responsável pela elaboração dos Guias. Entendi que a universidade recolheu todas as resenhas elaboradas por especialistas e deu a forma final ao trabalho. É notório que a obra não teve uma revisão final, e creio que os erros maiores aconteceram no momento da edição. Noventa porcento das resenhas, em todos os Guias, apesar do título “Resenha completa”, terminam subitamente, sem a conclusão do texto.

E quando mudam de página, os textos desaparecem e perdem o sentido. Cito aqui alguns exemplos do Guia PNLD 2018 – Educação Infantil:
O jogo de imagens que forma o texto visual atrai... (p.14) Em outras palavras, a pergunta é: para você, criança... (p. 222) A obra pode suscitar o encantamento pela natureza simbólica da linguagem, estimular o exercício do imaginário e facilitar .. (p. 256) Os mesmos problemas se repetem no Guia PNLD 2018 – Ensino Fundamental:
Não há abordagem simplificadora ou... (p. 26) O texto abre possibilidades em relação ao ensino-aprendizagem da leitura e à... (p. 179)

Por algum tempo foi feliz ao seu lado, até que descobre a magia do tear e passa a lhe exigir castelos e riquezas. A moça tece e... (p. 275) A explicação poderia ser o número de caracteres (palavras e sinais) que ultrapassaram o espaço destinado e simplesmente foram cortados na edição, prejudicando a compreensão dos textos e a finalização das ideias.

A não definição, na identificação dos livros, de autor, ilustrador e tradutor, acabou criando confusão entre os profissionais. No livro João & Maria, da Editora Intrínseca, Augusto Pacheco Calil (Augusto Calil) é o tradutor, Lorenzo Mattoti é o ilustrador e o autor (adaptador). Neil Gaiman não é citado. Na resenha, o autor é apresentado como ilustrador e no texto referente à obra, um clássico da literatura infantil, é dito:

“É uma obra de aventura, um conto de fadas; mas não somente, pois o que se passa com João e Maria se aproxima muito mais de um conto de horror relacionado à família, principalmente pela abordagem do abandono dos filhos pelos pais e da morte da mãe e da bruxa como punição.”

A obra premiada pela FNLIJ em 2016 – Melhor tradução e adaptação de reconto –, para o FNDE é considerada com “excesso de palavras em texto longo que pode ser desinteressante para alguns estudantes”. Uma avaliação descontextualizada que confirma que quem a redigiu a desconhece. Para recontar a famosa história criada pelos irmãos Grimm, Gaiman se inspirou nas belíssimas e impactantes ilustrações de Mattoti para comemorar a encenação do conto no Metropolitan Opera, em Nova York, em 2014.

Os mesmos problemas se repetem no Guia PNLD 2018 – para o Ensino Médio. Minha esperança e confiança está nos professores. Apesar da fragilidade dos Guias, as obras selecionadas oferecem uma possibilidade imensa de leituras memoráveis e ricas atividades. Cabe a eles a seleção adequada e pertinente para o seu trabalho e seus alunos. Espero que o próximo Guia PNLD 2020 – que já deve estar em elaboração – seja realizado com mais cuidado. Será?

Na leitura, mergulhei no A Batalha do Apocalipse (Verus – Grupo Record), que adquiri na Argumento, com entrega especial do Marcus Gasparian. Fiquei surpresa com a quantidade de jovens, em imensas filas, que durante uma das Bienais do Livro, no Rio de Janeiro, traziam seus livros para o autor autografar. A fantasy fiction que encanta os jovens brasileiros, com cerca de 500 mil exemplares vendidos (em formatos variados), em que Eduardo Sophr cria uma saga impressionante e o bem e o mal simplesmente fogem a todas as definições conhecidas. Objeto de estudo (Lajolo & Zilberman, Literatura Infantil Brasileira – Uma nova/outra história.
Pucprpress/FTD), A Batalha do Apocalipse envolve história e magia, anjos e demônios e é impossível parar de ler as suas mais de 600 páginas.

Recebi da Lourdinha Mendes (LE) o belo livro A Trapaça da Serpente. Sandra Bittencourt nos traz um reconto popular da África, apresentando às crianças a magia da história que Denise Rochael ilustra e nos aproxima da arte africana. Será que a serpente vai continuar enganando a Jovem de Bom Coração ou o Rapaz vai conseguir salvá-la?

O encantamento da querida Tatiana Belinki nos acompanha e alegra. Em Pontos de Interrogação (Global), com ilustrações de Orlando Pedroso, Tatiana apresenta rimas com histórias sem pé nem cabeça, que por certo farão as crianças dar boas risadas. Os pontos de interrogação fazem a gente duvidar se caracol tem bigode e se sapo come rocambole! Pode?