Lançamentos - Fevereiro 2023 - Edição 288

Divã

O Diário vai além da experiência de uma boa leitura, nos dando a oportunidade de colocar em prática os poderosos ensinamentos da psicoterapeuta. Com ilustrações cativantes, páginas para colorir reflexivas, check-ins de gentileza, avaliações de progresso e um recado pessoal de Lori, este diário oferece uma experiência única. Em Talvez Você Deva Conversar com Alguém, Lori nos mostrou como é estar dos dois lados do sofá, compartilhando sua vivência como terapeuta e paciente, com doses de humor afetuoso, sabedoria e honestidade. Na sequência, com o Workbook, ela criou um guia com lições valiosas e um passo a passo para olharmos para o passado e reescrevermos nossa história de vida de uma forma mais autêntica. Agora, ela nos oferece o Diário, no qual propõe um tema a cada semana, como faz nas suas sessões de terapia, para que cada linha escrita seja um passo essencial para uma mudança duradoura em nossa trajetória. Lori Gottlieb é psicoterapeuta e autora best-seller do New York Times de Em Talvez Você Deva Conversar com Alguém, que já vendeu mais de um milhão de cópias e atualmente está sendo adaptado como uma série de televisão. Além de sua prática clínica, ela é coapresentadora do popular podcast “Dear Therapists”, produzido por Katie Couric, e escreve a coluna semanal “Dear Therapist”, da revista The Atlantic. É presença recorrente em programas como The Today Show, Good Morning America, CBS This Morning, CNN e Fresh Air, da NPR. Sua palestra TED foi uma dos 10 mais assistidas do ano

Galinhode Quintino

A história de todos os gols de Zico (Editora Tinta Negra), esculpido pela tríade de rubro-negros Bruno Lucena (in memorian), Marcelo Abinader e Mário Helvécio, que a partir de agora é licenciado pelo Flamengo, descreve os incríveis números da carreira de um dos maiores jogadores de futebol do mundo. Após exaustivas e complexas pesquisas nacionais e internacionais, os autores contam a história de Arthur Antunes Coimbra, o Zico, com o futebol, saboreando cada gol marcado pelo “Galinho de Quintino” como se estivessem a beber um bom vinho. Nesse caso, taças, com ou sem trocadilho, certamente não faltarão. Das peladas de rua ao título de um dos maiores artilheiros da história do Brasil e um dos maiores símbolos do futebol mundial, o craque que marcou gerações tem sua carreira relembrada nessa obra que enumera os gols feitos na escolinha, no juvenil e no profissional, com datas, locais e adversários mencionados em ordem cronológica. Cada capítulo é um ano da história da vida profissional do jogador e, para o deleite do leitor, além da relação de gols, os autores apresentam também, estatísticas, rankings, curiosidades e afins. Com prefácios do jornalista e escritor Marcos Eduardo Neves, George Helal e do Maestro Junior, o livro tem imagens belíssimas e uma narrativa empolgante, capaz de nos transportar a campo ao descrever a destreza de Zico ao colocar a bola nas redes: de falta, rolando, pênaltis, cabeça, calcanhar, de letra e até de bunda, sem querer.

Sem parar

Um livro impossível de largar, A Longa Marcha é uma narrativa distópica sobre uma competição em que os participantes não têm mais nada a perder, além da própria vida. O romance inaugura a nova coleção da Editora Suma, que reúne os livros de Richard Bachman, pseudônimo que Stephen King usou entre 1977 e 1985 para assinar histórias angustiantes e surpreendentes. Contrariando a vontade da mãe, o jovem Ray Garraty está prestes a participar da famosa prova de resistência conhecida como A Longa Marcha, que presenteia o vencedor com “O Prêmio” – qualquer coisa que ele desejar, pelo resto da vida. No percurso anual que reúne milhares de espectadores, cem garotos devem caminhar por rodovias e estradas dos Estados Unidos acima de uma velocidade mínima estabelecida. Para se manter na disputa, eles não podem diminuir o ritmo nem parar. Cada infração às regras do jogo lhes confere uma advertência. Ao acumular mais de três penalidades, o competidor é eliminado – de forma “permanente”. E não há linha de chegada: o último a continuar de pé vence. Dentre outros livros assinados pelo autor, estão A Autoestrada (1981) e O Concorrente (1982). Em 1987, o romance de Bachman The Running Man inspirou o filme de Paul Glaser com o mesmo nome. King insistiu que seu nome não constasse nos créditos, e o crédito de tela para o filme foi para Richard Bachman.

Belas fatais

Rainha do Escândalo (Editora Gutemberg) de Sarah MacLean, estreia a tetralogia em grande estilo, nos apresentando Lady Sesily Talbot, uma heroína ousada e impetuosa, capaz de se livrar de um canalha ou seduzi-lo em uma única noite. Depois de anos vivendo como uma das mulheres mais escandalosas de Londres, Sesily abraçou sua reputação para usufruir da liberdade de atrair cavalheiros para jardins escuros, sem que ninguém percebesse do que se tratavam esses encontros. Impossível não querer saber o desenrolar dessa história, que é só o começo de uma coleção absolutamente imperdível. Sarah MacLean passou grande parte de sua infância entre os livros da biblioteca da cidade onde nasceu, Lincoln, Rhode Island. Formou-se em História e em Antropologia Cultural pela Smith College, e em Educação pela Universidade Harvard, antes de se mudar para Nova York, onde escreveu seu primeiro livro. No início de 2012, lançou a série pré-vitoriana O Clube dos Canalhas, cujo livro Entre o Amor e a Vingança recebeu, em 2013, o Prêmio RITA. O terceiro volume da mesma série, Entre a Ruína e a Paixão, ganhou o RITA em 2014. Quando não está escrevendo romances, viaja pelos Estados Unidos para discutir sua posição nos estudos culturais e de gênero. É colunista no jornal estadunidense The Washington Post, e também tem colunas publicadas no The New York Times e na revista Parents. Sarah vive em Nova York com o marido, a filha, o cachorro e uma coleção gigantesca de romances.

Loucuras

Desde já prevenimos o leitor: ninguém sai de um hospício do mesmo jeito que entrou. Hospício é lugar de deslocamento e transformação. É preciso coragem e empatia para entrar e para compreender o que se vê. A Origem da Água (Editora Confraria do Vento), de Ana Cristina Braga Martes, constrói essa empatia, e não para heroificar nem glamourizar a loucura ou os loucos, mas para mostrar que estão muito distantes e muito próximos de nós e que são capazes de expressar uma pulsão criativa incomum. Nesse lado salutar e vibrante daqueles que ainda hoje são tão incompreendidos, a vida e a inventividade transbordam. O mistério da origem da água na terra é comparável ao mistério da loucura. Sobre um e outro, sabemos muito pouco. A protagonista deste livro, inspirada na escritora Maura Lopes Cançado, se internou voluntariamente num hospício aos 25 anos de idade. Criança ousada e brilhante, nascida em uma família patriarcal mineira no início do século XX, ela cresceu querendo estudar, trabalhar, escrever e desfrutar de uma vida sexual livre de provincianismos; ousou, assim, participar de um mundo dominado pelos homens. Nesse universo, mulheres não eram bem-vindas e dificilmente obtinham reconhecimento, mesmo quando conseguiam romper barreiras quase intransponíveis. Mesclando com sutileza ficção e realidade, sua autora tangencia eventos significativos da biografia de Maura, ficcionalizando com maestria passagens de sua vida e um mundo interior de rara riqueza tanto biográfica como literária.

Castas sociais

Sétimo livro do autor, Aquele Mundo de Vasabarros foi lançado em 1982 e recebeu, no ano seguinte, o prêmio Jabuti na categoria romance. A trama faz parte do que especialistas identificam como “ciclo sombrio” de José J. Veiga: depois de A Hora dos Ruminantes (1966), Sombra de Reis Barbudos (1972) e Os Pecados da Tribo (1976), esta obra do escritor goiano retorna a um cenário oprimido por poderes atrozes e descomunais. Sob o regime dos Simpatia – família no poder há sete séculos –, Vasabarros é uma cidade triste, cinza e hostil. Sua população se divide em andares, que reproduzem a estratificação social: no primeiro nível, estão os funcionários do primeiro escalão; no segundo, vivem os membros da Simpatia e, no terceiro, moram os pobres e marginalizados. Lá, a submissão parece ser a única forma de sobrevivência. Mistura de distopia e de resposta à brutalidade da ditadura, Vasabarros é alegoria de uma sociedade dominada pela burocracia e pelo autoritarismo. Lá, as regras são seguidas a ferro e fogo, e as palavras de ordem são vigilância, hierarquia, punição e temor. Sob o regime da família Simpatia, em Vasabarros, há também os merdecas e mijocas, alcunha para os vigias e oficiais responsáveis pela manutenção da disciplina. Aquele Mundo de Vasabarros de J.J. Veiga sai agora em 2023 pela égide da Companhia das Letras com capa de Kiko Farkas.