Setembro - 2022 - Edição 283

Vegetação original

A destruição de florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil é decorrência do tipo de desenvolvimento imposto desde a colonização do país, cuja expansão econômica se deve, principalmente, à exploração de recursos naturais. Mas esse suposto desenvolvimento tem trazido, no longo prazo, vantagens econômicas e sociais para a maioria da população? Cabe a quem impedir que a ocupação do território seja feita de forma cada vez mais agressiva ao meio ambiente. Para responder essas e outras perguntas, Zé Pedro de Oliveira Costa apresenta neste livro Uma História das Florestas Brasileiras (Editora Autêntica) um panorama detalhado sobre as diferentes etapas da ocupação do território brasileiro a partir da derrubada de sua vegetação original. O autor foi o primeiro secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e hoje atua como pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da mesma instituição. Além de um dos organizadores do Sistema Ambiental brasileiro, Zé Pedro é um dos maiores responsáveis pela criação de parques e outras áreas protegidas de grande dimensão do país, tendo alcançado que muitas delas integrem hoje a lista do Patrimônio Mundial Natural da UNESCO.

Ser fã

Como a maioria das histórias de paixões arrebatadoras, essa também passa ao largo da razão. Diferente dos casos de amor incontido, não há sofrimento, mas um final incomum. O autor do livro Ninguém Sabe quem Sou eu (a Bethânia agora sabe), (Editora Máquina de Livros), o jornalista Carlos Jardim abre o coração e conta em detalhes até onde um fã pode ir: da descoberta da artista na adolescência à lenta aproximação até o atual e apoteótico momento: a realização de um filme dirigido e roteirizado por ele – e estrelado por ela – em exibição no país a partir de setembro. Jardim, como Bethânia o chama, não esconde o jogo no livro. Narra na primeira pessoa, numa conversa informal com o leitor, suas muitas obsessões, comuns a fãs inveterados: madrugar em fila de ingresso, catar objetos deixados no palco depois dos shows, aguardar horas na porta dos camarins em troca de alguns segundos diante da cantora. E como fã que se preze, ele também exibe no livro alguns troféus de sua coleção particular, quase um “museu Maria Bethânia”: fotos com ela, discos autografados, mensagens pessoais, entre outros itens, reunidos ao longo da vida e guardados como preciosidades. Com prefácio da jornalista Andréia Sadi, o livro é escrito com encantamento e repleto de curiosidades e bastidores, divertido da primeira à última linha.

Conspirações

Combinando o melhor da ficção com a reconstituição histórica, Ruy Castro cria uma trama de tirar o fôlego que faz do imperador D. Pedro II o alvo de uma conspiração antimonarquista. Em 1876, D. Pedro II embarcou num vapor rumo aos Estados Unidos para as comemorações do Centenário da Independência americana e passou três meses conhecendo o país. Em Os Perigos do Imperador – Um romance do Segundo Reinado (Cia das Letras), Ruy Castro parte desse episódio verídico e constrói um romance eletrizante, que imagina um atentado fatal contra o monarca orquestrado por republicanos brasileiros. Fazem parte dessa trama o poeta Sousândrade, que à época vivia em Nova York; James O’Kelly, repórter do New York Herald; Deoclecio de Freitas, dono de um virulento periódico antimonarquista; e Leopoldo Ferrão, a peça-chave para a execução do plano. Além, é claro, do grande elenco da corte imperial. Presente no livro está toda a versatilidade de Ruy Castro como escritor. Com a experiência de biógrafo, reconstitui habilmente a atmosfera do Brasil e dos Estados Unidos do século XIX; como romancista, tece uma narrativa intrigante que intercala a voz do narrador com diários, cartas, reportagens e editoriais, fazendo o leitor se questionar sobre o que de fato aconteceu.

Ser avó

Viver em um mundo lúdico e mágico é para Helen Maria um lugar de conversa. Apaixonada pelas artes, a enfermeira de profissão, criadora do projeto “Emplaque o Bem” (@emplaqueobem), encontrou uma maneira de agradecer a chegada do seu neto Miguel: escrevendo um livro, mas também confeccionando cenários, personagens e seus figurinos. E assim nasceu Vovó Re Versa (Literando), dedicado ao seu pequenino novo amor, que além da linda homenagem, conversa sobre as inseguranças de qualquer pessoa diante do novo, de como ser a partir de agora: como deve ser uma avó? Um encontro com este colorido e sensível universo de Helen Maria, com a “presença” dos personagens e cenários que compõem a ilustração da publicação. Na construção de Vovó Re Versa, a autora desenvolveu seu texto repleto de referências do mundo atual, mas fez questão de mostrar o imaginário dos contos da literatura mundial, assim como seus afetos, como o cão Nescau, que esteve com a família por mais de uma década e partiu há pouco meses. Um singelo aval de Ziraldo, que comentou: “Muito bonito, muito interessante, muito criativo”, foi o que faltava para a autora seguir com o seu livro, que ganhou prefácio de Gizele Toledo.

Mulheres governantes

Nesta revolucionária revisão da história, Quando as Mulheres Governavam o Mundo – Criando a Renascença na Europa (Editora Vestigio), Maureen Quilligan, uma das maiores especialistas sobre o Renascimento, mostra como quatro poderosas mulheres redefiniram a cultura da monarquia europeia no glorioso século XVI – um período de crônica instabilidade, com instituições de tradicional autoridade sendo desafiadas e guerras religiosas que pareciam não ter fim. Houve também o testemunho do nascimento marcante de uma cultura pacifista, cultivada por um grupo de extraordinárias mulheres governantes – Mary Tudor, Elizabeth I, Catarina de Médici e Mary da Escócia –, cujas vidas estiveram interligadas não apenas por ascendentes comuns e casamentos, mas também por um reconhecimento mútuo de que, a partir de suas posições de destaque, elas precisavam se unir, enquanto mulheres, para combater forças que desejavam destruí-las e que ameaçavam a própria estrutura monárquica. Com uma crônica vibrante e uma criatividade artística, esta obra bem ilustrada oferece uma nova perspectiva sobre o século XVI e, acima de tudo, uma visão inédita de

Alice reinventada

Sofia, ou bisnaguinha, a menina que “passa os dias conversando com as próprias ideias”, tinha um único desejo: tornar-se invisível. Após fazer esse pedido em seu aniversário de sete anos e tê-lo realizado, a pequena se vê livre para andar pelos lugares mais mágicos do mundo, numa aventura que todos nós gostaríamos de ter a oportunidade de vivenciar. Com uma escrita experimental, lúdica e permeada pela magia, A História Invisível (Fósforo Editora) é a estreia de Sofia Nestrovski na ficção. Neste livro, somos levados pelos caminhos do universo infantil através do olhar dessa personagem que só queria escapar do tédio, mas acabou se lançando em um mundo fabular repleto de conversas com sapos e peixes e dos lugares mais recônditos, como o tronco de uma árvore. Com ilustrações inéditas de Danilo Zamboni, essa versão século XXI de Alice no País das Maravilhas nos convoca a fugir, a deixar para trás a rotina e a mesmice, e a reencontrar os pensamentos da infância que abandonamos ao longo dos anos. A História Invisível nos leva por caminhos poéticos e cheios de imagens que trazem alento para a rotina, ao mesmo tempo que nos lembra de como a infância também pode ser dolorosa.