Maio - 2020 - Edição 255

Pandemia

No brilhante artigo Na Batalha contra o Coronavírus, Faltam Líderes à Humanidade, publicado originalmente na revista Time, Yuval Noah Harari defende a cooperação entre os povos e nações no combate às pandemias e a outros males. Para facilitar a leitura do texto, urgente para repensarmos a crise mundial pela qual estamos passando, disponibilizamos o e-book gratuito do artigo traduzido na Amazon Brasil, Apple Books, Google Play e Kobo. A globalização tem sido apontada com uma das causas da pandemia do coronavírus e muitos afirmam que, para evitar surtos desta natureza, deve-se desglobalizar o mundo. Contrariando este argumento, o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor best-seller de Sapiens e Homo Deus, discute sobre os desastrosos efeitos econômicos do isolacionismo prolongado entre as nações e indica um novo caminho: o verdadeiro antídoto para epidemias não é a segregação, mas a cooperação. “Talvez as duas opções mais importantes sejam: se enfrentamos esta crise por meio do isolamento nacionalista ou se enfrentamos através da cooperação e solidariedade internacionais”, afirmou. “Em segundo lugar, dentro de um país, as opções são tentarmos superar a crise por meio de controle e vigilância totalitário e centralizado, ou por meio da solidariedade social e do empoderamento dos cidadãos”, acrescentou em entrevista ao programa Newshour da BBC.

A Era da Informação

Fim de Milênio (Editora Paz e Terra) é o último volume da fascinante trilogia de Manuel Castells, A Era da Informação: Economia, sociedade e cultura. Nesta edição revista e ampliada, foi incluído novo prefácio do autor a respeito dos processos de mudança social global induzida pela transição da antiga sociedade industrial para a emergente sociedade em rede global. Este livro apresenta um estudo do colapso da União Soviética, remetendo sua extinção à incapacidade demonstrada pelo estatismo industrial de conduzir a transição do país para a era da informação. O volume mostra ainda o crescimento da desigualdade, da polarização e da exclusão social em todo o mundo, tomando como exemplo a África, a pobreza urbana e as diversas formas de exploração de menores. Além disso, Manuel Castells analisa a globalização do crime organizado, que afeta profundamente a economia e a política de diversos países. Avalia os fundamentos políticos e culturais da emergência do Pacífico Asiático como a região mais dinâmica da economia global e reflete sobre as contradições da unificação europeia, propondo o conceito de Estado em rede. Na conclusão geral da trilogia, incluída neste volume, Castells une os fios de seus argumentos e descobertas, apresentando uma interpretação sistemática do nosso mundo na virada do milênio. Manuel Castells nasceu em Hellin, Espanha, em 1942. Publicou mais de 20 livros.

Clamor do Silêncio

Este recém-lançado Lobo sem Mar de Lasana Lukata – o poeta das garças – é um livro que, em certo sentido, trata fundamentalmente de memórias, beleza e afetos. Rico em imagens sonoro-plásticas, os poemas apresentam uma linguagem fluida e convidativa, que dialoga com obras anteriores como Exercício de Garça (2011), Separação de Sílabas (2011) e Urdume (2013). Semelhante a uma nau abrindo sulcos no mar, em meio a resquícios de um grito, em meio ao clamor do silêncio, o poeta aventura-se por mares pulsantes de poesia a serem descobertos. Aos navegantes, um aviso: “poesia, farol que olha em todas as direções.” E inventa arranjos improváveis, encontros díspares, relações não hierárquicas. De repente, surgem no verso variações rítmicas, rimas internas e externas, metáforas, rupturas. E, ainda, delírio de abismos, a chegada de pedras, versos, ruínas, o rio Meriti a derramar poemas, o reencontro do homem com a natureza. Entre memórias reavivadas e memórias inventadas, em escuta da sua Musa – a garça –, Lasana Lukata perscruta a palavra da poesia. Com a pena sobre o papel, alça um voo rumo a “profundezas luminosas”. Um voo leve, como uma pluma; leve, sem ser vago. Um voo denso, como a magia do encanto; denso, sem ser pesado. Infância, o amor, o pai, a madrasta, as aves, o chapisco nas palavras, a marinha e o mar são alguns elementos que se entrecruzam neste novíssimo livro, mas sem carregar o fardo de males existenciais.

Cura Gay

Em 1935, uma mulher americana escreveu a Freud, aflita que estava com a sexualidade de seu filho. Em 9 de abril do mesmo ano, ele escreve a resposta que se tornaria não apenas um documento histórico, mas também um poderoso instrumento de luta. Não por acaso, a carta circularia nas redes sociais brasileiras na infame disputa em torno da chamada “cura gay”, mostrando toda sua inesperada atualidade. Oito décadas depois de Freud acalmar o coração daquela mãe, a Editora Autêntica convidou ativistas, mães, filhos, pessoas LGBT ou não, psicanalistas, gente da literatura, da sociologia, da filosofia, do direito, dos estudos de gênero, etc., a se fazer uma pergunta: e se a carta do Dr. Freud fosse endereçada a você? O resultado são textos que expressam a diversidade das várias perspectivas teóricas, políticas, literárias e sexuais dos missivistas em Caro Dr. Freud: respostas do século XXI a uma carta sobre homossexualidade, com organização de Gilson Iannini. As cartas, ora profundamente pessoais, ora claramente ficcionais, trazem a Freud as angústias de hoje, contam a ele as vitórias e as conquistas, mas também os desafios que ainda permanecem. Autores: Acyr Maya, Adilson José Moreira, Antonio Quinet, Beatriz Santos, Berenice Bento, Carla Rodrigues, Christian Ingo Lenz Dunker, Ernani Chaves, Fernanda Otoni Brisset, Guacira Lopes Louro, Letícia Lanz, Lucas Charafeddine Bulamah, entre outros.

Obra Criativa

Duas décadas depois do best-seller O Ócio Criativo, Domenico De Masi, uma vez mais em diálogo com Maria Serena Palieri, oferece um instantâneo do tempo em que estamos vivendo, um quadro realista e carregado de esperança, o qual narra, agora, em O Mundo Ainda é Jovem. O ponto de partida é a verificação sociológica do senso de desorientação que caracteriza a nossa sociedade. Temos “duas certezas irrefutáveis: a primeira é que o mundo no qual vivemos certamente não é o melhor dos mundos, mas é, sem dúvida, o melhor dos mundos que já existiram até hoje. A segunda é que a obra criativa da humanidade está apenas iniciando sua caminhada, e, pela primeira vez na história, cabe a nós dar-lhe continuidade ou interrompê-la para sempre”. Temas centrais na contemporaneidade, como longevidade, trabalho, engajamento; conceitos de natureza sociológica, como os de classe e gênero, ou mais próprios da psicologia, como medo e felicidade. Um vocabulário indispensável para orientar-se, até politicamente, num cenário em que já vivemos e que, rapidamente, nos lançará desafios sem precedentes. O Mundo Ainda é Jovem. Conversas sobre o futuro próximo com Maria Serena Palieri (Editora Vestígio), de Domenico De Masi, com tradução de Sieni Cordeiro Campos e Reginaldo Francisco, nos instiga a refletir e a decidir sobre os nossos próximos passos. De Masi residiu em 3 cidades italianas: Nápoles, Milão e Roma.

Reconhecimento

Obra inaugural da literatura afro-brasileira, Úrsula (Companhia das Letras) é um dos primeiros romances de autoria feminina escritos no Brasil. Maria Firmina dos Reis, mulher negra nascida no Maranhão, constrói uma narrativa ultrarromântica para falar das mazelas sociais decorrentes da escravidão. Tancredo e Úrsula são jovens, puros e altruístas. Com a vida marcada por perdas e decepções familiares, eles se apaixonam tão logo o destino os aproxima, mas se deparam com um empecilho para concretizar seu amor. Combinando esse enredo ultrarromântico com uma abordagem crítica à escravidão, Maria Firmina dos Reis compõe Úrsula, um dos primeiros romances brasileiros de autoria feminina, em 1859. Em 1887, publicou na Revista Maranhense o conto “A Escrava”, no qual se descreve uma participante ativa da causa abolicionista. Por dar voz e agência a personagens escravizados, é vista como a obra inaugural da literatura afro-brasileira. Retrata homens autoritários e cruéis, mostrando atos inimagináveis de mando patriarcal e senhorial em um sistema que não lhes impõe limites. Com rica introdução e contextualização histórica, esta edição de Úrsula celebra uma das autoras mais importantes da literatura nacional e conta com estabelecimento de texto e introdução de Maria Helena Pereira Toledo Machado e cronologia de Flávio Gomes.