Abril, 2023 - Edição 290

A direção de Rosiska na Revista Brasileira, onde passado, presente e futuro se encontram

Combinando o clássico e o contemporâneo, a Revista Brasileira, da ABL, mais antiga em atividade no país, repaginada, no ano passado, sob a firme direção da acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira, persiste na celebração da diversidade cultural. A conceituada publicação, trimestral, apresenta, a cada edição, uma pluralidade crescente de vozes que exprimem a riqueza democrática do nosso país.

Tendo como norte a fidelidade ao humanismo e à liberdade, o destaque da primeira edição deste ano são as duas entrevistas (com Caetano Veloso e Cacá Diegues), além de textos primorosos, tais como o de Itamar Vieira Junior (sobre o ato de escrever), um artigo de Roberto Lent (sobre Inteligência Artificial e Neurociência), Eugenio Bucci, falando sobre Democracia e o discurso de posse do acadêmico Eduardo Gianetti, entre tantas outras leituras imperdíveis.

No primeiro editorial de 2023, a acadêmica Rosiska ressalta a diversidade dos talentos do país: “Escritores que contam suas escritas, a vida nos palcos e o ofício do ator, os sons, palavras e imagens do Brasil, tantas linguagens brotadas do mesmo chão, confirmando quão imenso e complexo é esse país, eivado de imperfeições e desigualdades, assim como de talentos e ideais. E que resta amado por seu povo, como afirmam seus artistas maiores, os fazedores de uma cultura viva e original, capaz de inspirar um mundo incompreensível, opaco e sombrio, onde se digladiam potências, modelos cuja validade expirou”, e completa: “O tempo é de perguntas em forma de imaginação, de pensamento, de conhecimento, de sensibilidades. Tudo com que se faz uma cultura. E é dessa multifacetada cultura que se trata aqui. O passado guarda segredos e há felizmente quem o preserve. São achados que contam o Brasil com o mesmo talento dos que falam de hoje e de amanhã. Um melômano audaz que segue e grava Stravinsky, clandestinamente, nos anos 1960, durante um ensaio na Igreja da Candelária; a ópera no Rio de Janeiro do século XIX; as heroínas que mereceram a homenagem dos selos; o fado, quem diria, que nasceu no Brasil com destino transgressor. Tudo isso é a história não contada do país que visita as páginas da Revista Brasileira. Escrevemos em português, nossa língua. Língua portuguesa ou língua brasileira, é em português que debatemos, qualquer que seja a posição do autor. Os diferentes pontos de vista ampliam o raio de visão e injetam mais vida nessa que, por si, já é matéria viva. Passado, presente e futuro se encontram na Revista Brasileira. À imagem mesma da Academia Brasileira de Letras.”

No primeiro semestre de 2022, na edição de estreia sob a direção da acadêmica, o tema da Revista – “Amazônias” (com s) – foi um assunto que se impôs do que a publicação pretendia mostrar: “Contemporaneidade, relevância, diversidade de opiniões, respeito pela memória ancestral e anúncio do que está por vir”, afirmou Rosiska Darcy de Oliveira no primeiro editorial, onde ressaltou a importância da publicação: “Um patrimônio que transmite sua mensagem civilizatória por um fio invisível que, de geração em geração, nos preserva da corrosão do tempo.”

A reforma gráfica de Felipe Taborda, em parceria com Augusto Erthal, do escritório de design E-Thal, deu nova identidade visual no primeiro número da décima fase da publicação (número 110). Novas seções dedicadas à ciência, tecnologia, cinema, música e fotografia, marcaram a estreia sob a direção da acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira, com grandes nomes da cultura nacional presentes. Disponibilizada no site da ABL, a publicação reforça as atividades que a Casa de Machado oferece ao público. Para isso, traz a seção “ABL: Portas Abertas”, com textos inéditos dos acadêmicos. Ninguém conta melhor a verdade de um país do que sua literatura


Histórico



A primeira publicação conhecida por usar o nome de Revista Brasileira apareceu no dia 14 de julho de 1855, com o título de Revista Brasileira, Jornal de Literatura, Teatros e Indústria, fundada e dirigida pelo Dr. Francisco de Paula Meneses. Anunciava-se como quinzenal, mas só apareceu o n.º 1.

A segunda surgiu em 1857, com a denominação de Revista Brasileira, Jornal de Ciências, Letras e Artes. Durou até 1861, perfazendo quatro volumes. Seu diretor, Cândido Batista de Oliveira (1801-1865), formado em Matemáticas pela Universidade de Coimbra e aluno da Escola Politécnica de Paris, era um cientista e publicava, sobretudo, artigos científicos. Afrânio Peixoto, ao fazer o histórico das fases da revista, silenciou sobre Paula Meneses e apresentou os volumes de Batista de Oliveira como a Fase I.

A Fase II da Revista Brasileira, a chamada “fase Midosi”, editada por Nicolau Midosi, publicou, regular e mensalmente, de junho de 1879 a dezembro de 1881, 30 números, reunidos em 10 volumes. Em suas páginas, tiveram primeira publicação as Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, os poemas de Fagundes Varela que constituem O diário de Lázaro, a “Introdução à História da literatura brasileira”, de Sílvio Romero, aproveitada, mais tarde, na sua História da literatura brasileira, entre tantas e importantes colaborações.

A Fase III, a chamada “fase José Veríssimo”, circulou dejaneiro de 1895 a setembro de 1899. Foram publicados 19 tomos, com 93 fascículos. Sem dar destaque à sua condição de diretor, José Veríssimo apenas solicitava, na contracapa, que as colaborações fossem enviadas ao “Sr. José Veríssimo, director da Revista Brazileira, Ouvidor 66”. Nesse endereço, reuniam-se os escritores que fundaram a Academia Brasileira de Letras.

Nas páginas da revista, foram publicados os discursos proferidos na sessão inaugural pelo presidente Machado de Assis e pelo secretário-geral Joaquim Nabuco, assim como a “Memória Histórica” do 1.º secretário Rodrigo Otávio. A Fase IV da Revista Brasileira, dirigida por Batista Pereira, genro de Rui Barbosa, durou apenas de junho de 1934 a novembro de 1935. Na folha de rosto, anunciava “Publica-se mensalmente”, mas não foi regular, publicando, durante 18 meses, apenas 10 números.

A Fase V da Revista Brasileira, a partir da qual passou a ser publicada pela Academia Brasileira de Letras, nasceu de uma proposta de Levi Carneiro, então presidente da Casa de Machado de Assis, e teve início em julho de 1941. Embora tivesse encontrado forte oposição por parte de alguns acadêmicos, insatisfeitos com a decisão, posteriormente revogada, de membros da Academia não poderem publicar na revista, a iniciativa teve relativo êxito.

Em 1948, saiu o vigésimo número. Após uma interrupção de 10 anos, voltou a circular em 1958, ainda sob a direção de Levi Carneiro, e chegou ao n.º 29, publicado em novembro de 1966. A Fase VI, sob a direção de Josué Montello, compreende apenas seis volumes, de 1975 a 1980. A Fase VII, sob a direção de João de Scantimburgo, abrangeu 69 números, pautando-se pelo critério da trimestralidade, e circulou do último trimestre de 1994, quando voltou a ser publicada, até dezembro de 2011.

A Fase VIII iniciou no primeiro trimestre de 2012, sob a direção de Marco Lucchesi. Na Fase IX, com a direção de Cicero Sandroni, de 2018 a 2021, a Revista contou, no Conselho Editorial, com os acadêmicos Arnaldo Niskier, João Almino e Merval Pereira.


Em 2022, teve início a Revista repaginada, sob a direção da acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira. No Conselho Editorial, estão os acadêmicos Cacá Diegues, Zuenir Ventura e Joaquim Falcão.

Uma coleção completa da Revista Brasileira encontra-se no Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa, que organizou e publicou o índice da Revista Brasileira das seis primeiras fases, e uma coleção microfilmada está disponível na Divisão de Informação e Documentação da Biblioteca Nacional. Todas as edições também podem ser acessadas on-line pelo site da Academia Brasileira de Letras.

Por Manoela Ferrari