Novembro, 2022 - Edição 285

Ruy Castro imortal Ruy Castro imortal

Um dos principais biógrafos do país, Ruy Castro é o mais recente imortal eleito para a Academia Brasileira de Letras. Aos 74 anos, o premiado escritor e jornalista, que recebeu da Instituição, no ano passado, o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra, irá ocupar a Cadeira número 13, que era do ex-ministro da Cultura Sérgio Paulo Rouanet, falecido em julho, aos 88 anos, vítima de uma síndrome de Parkinson avançada.

Favorito absoluto, desde que se inscreveu para a eleição, o novo acadêmico alcançou 32 dos 35 votos, superando com folga os outros candidatos (Jackeson dos Santos Lacerda, Rodrigo Cabrera Gonzales, Elói Angelos G. D ‘Arachosia, André Amado e Raquel Naveira). Campeão de vendas nas livrarias, especialmente com as biografias – gênero literário que ajudou a renovar no Brasil – o autor de O Anjo Pornográfico, Uma Estrela Solitária e Carmem, entre outros best sellers, é mais um talento aprovado pelo gosto popular.

O presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, afirmou que a qualidade da obra continua sendo o fator determinante na escolha dos imortais: “Na verdade, a gente quer mostrar que a Academia é aberta a todos e que os artistas de várias tendências da cultura estão representados aqui, mas a qualidade é essencial”, apontou, destacando o talento do novo imortal como biógrafo e romancista: “Ruy Castro é um grande escritor, biógrafo formidável não apenas de grandes nomes, como Garrincha, Nelson Rodrigues, mas da cidade do Rio e de movimentos fundamentais da nossa cultura, como a bossa nova. Seu mais recente romance, Os Perigos do Imperador (2022), é exemplo do exímio escritor que é”, afirmou o presidente.

Ao receber a notícia da eleição, Castro falou sobre a responsabilidade de ocupar a Cadeira 13: “A Cadeira 13 é extraordinária. Ela começou com o Visconde de Taunay, um grande romancista do começo do século XX, e ele escolheu como patrono o Francisco Otaviano, um dos pais da imprensa brasileira. Também foi ocupada por Augusto Meyer, que abasteceu milhares de bibliotecas nos 30 anos em que foi diretor do Instituto Nacional do Livro. Depois, por Francisco de Assis Barbosa que, além de ter sido um grande jornalista dos anos 1930 e 1940, foi quem organizou toda a obra do Lima Barreto e fez sua primeira grande biografia. Por fim, tivemos o grande Sergio Paulo Rouanet. Ou seja, não pode haver cadeira mais maravilhosa, com antecessores que, como eu, foram jornalistas que se tornaram escritores. Tenho que fazer jus a todos eles”, exaltou.

Nascido em Caratinga (MG), em 1948, mudou-se ainda em seus primeiros anos de vida com os pais para o Rio de Janeiro. Formou-se no curso de Ciências Sociais, na então Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) – atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas nunca atuou na área.

Como jornalista, passou por importantes veículos de imprensa, a partir dos anos 1960. Fez coberturas importantes, como a posse de João Guimarães Rosa na ABL, em 1967. Atualmente, é colunista da Folha de S. Paulo.

Parte de sua produção jornalística foi reunida em livros como Um Filme é para Sempre (sobre cinema), Tempestade de Ritmos (sobre música popular) e O Leitor Apaixonado (sobre literatura). Escreveu também um ensaio sobre o Rio, Carnaval no Fogo: Crônica de uma Cidade Excitante Demais. Seus livros têm edições nos Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália, Polônia, Rússia e Turquia.

A seu respeito, foi publicado o livro Álbum de Retratos: Ruy Castro, uma minifotobiografia, pela editora Folha Seca. Castro é vencedor do Prêmio Esso de Literatura, do Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira e de quatro Jabutis.

Em 1992, lançou o primeiro grande sucesso, Chega de Saudade, em que reconstruiu o movimento da bossa nova através de seus protagonistas. Após o primeiro best seller, Ruy encadeou uma série de biografias bem-sucedidas. Reconstruiu a vida do polêmico dramaturgo Nelson Rodrigues (O Anjo Pornográfico, 1992), do jogador Mané Garrincha (A Estrela Solitária, 1995) e da cantora Carmen Miranda (Carmen, 2005). Além de revisitar bossa nova em um livro de verbetes (Ela é Carioca, 1999), de histórias (A Onda que se Ergueu do Mar, 2001) e de roteiros (Rio Bossa Nova, 2006).



Seu último épico biográfico é Metrópole à Beira-mar — O Rio moderno dos anos 20, que descreve a efervescência cultural e moderna da então capital federal na década de 1920. O novo acadêmico lançou, também, romances que misturam ficção e História, como Bilac Vê Estrelas (2000), Era no Tempo do Rei: Um romance da chegada da corte (2007), e o mais recente Os Perigos do Imperador, entre outros, além de condensações de clássicos como Frankenstein, de Mary Shelley, e Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.

Sobre o seu processo criativo, Ruy Castro afirma: “Sou basicamente um biógrafo que também faz livros de reconstituição histórica, como se fossem biografias da bossa nova, do Rio dos anos 1920 e 1950, e por aí vai. O processo de apuração é o mesmo. Não posso me considerar propriamente um romancista, porque só publiquei três até hoje. E são romances de um ‘biógrafo em férias’. De dez em dez anos tenho uma ideia para um romance e escrevo porque vou achar divertido explorar, fazendo de uma forma que os leitores também gostem.”


Obras publicadas Chega de Saudade: A história e as histórias da Bossa Nova – 1990;
edição revista – 2016;
O Anjo Pornográfico: A vida de Nelson Rodrigues – 1992;
Saudades do Século XX – 1994;
Estrela Solitária – Um brasileiro chamado Garrincha – 1995 (prêmio Jabuti em 1996);
Ela é Carioca – 1999;
Bilac Vê Estrelas – 2000;
O Pai que Era Mãe – 2001;
A Onda que se Ergueu no Mar – 2001;
Carnaval no Fogo – 2003;
Flamengo: O vermelho e o negro – 2004;
Amestrando Orgasmos – 2004;
Carmen – Uma biografia – 2005;
Rio Bossa Nova – 2006;
Tempestade de Ritmos – 2007;
Era no Tempo do Rei: Um romance da chegada da corte – 2007;
Terramarear (coautoria com Heloísa Seixas) – 2011;
Morrer de Prazer – Crônicas da vida por um fio – 2013;
Letra e Música – 2013;
A Noite do meu Bem – A história e as histórias do samba-canção – 2015;
Metrópole à Beira-Mar – O Rio moderno dos anos 20 – 2019
As Vozes da Metrópole: Uma antologia do Rio dos anos 20 – 2021
Os Perigos do Imperador: Um romance do Segundo Reinado – 2022

Participações, adaptações e antologias:
Mau-Humor: Uma antologia definitiva de citações venenosas;
Contos de Estimação;
Querido Poeta: Correspondência de Vinicius de Moraes;
Frankenstein;

Por Manoela Ferrari