Agosto, 2023 - Edição 294

Heloísa Teixeira Imortal

Foi como Heloísa Teixeira que a professora e ensaísta Heloísa Buarque de Hollanda tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL). O uso do sobrenome de família no lugar do que a tornou conhecida, tomado do seu ex-marido, é uma iniciativa com a qual a nova imortal homenageia a mãe. A escritora e crítica cultural, de 83 anos, é considerada uma das principais vozes do feminismo brasileiro e uma das maiores intelectuais públicas do país. Tem formação em Letras Clássicas pela Pontifícia Universidade Católica do RJ, mestrado e doutorado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutorado em Sociologia da Cultura pela Universidade de Columbia, em Nova York. Além disso, é diretora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ. A nova acadêmica tem vários artigos publicados nas áreas de arte, literatura, feminismo, cultura digital, cultura da periferia e políticas culturais. Entre os livros, destaca-se a histórica coletânea 26 Poetas Hoje, de 1976, revelando uma geração de poetas “marginais” que entrou para a literatura brasileira, como Ana Cristina Cesar, Cacaso e Chacal. Essa antologia é considerada um divisor de águas entre poesia canônica e poesia contemporânea e performática. Segundo a autora, o livro causou furor na época. Outros livros publicados por Heloísa são Macunaíma, da Literatura ao Cinema; Cultura e Participação nos anos 60; PósModernismo e Política; O Feminismo como Crítica da Cultura; Guia Poético do Rio de Janeiro; Asdrúbal Trouxe o Trombone: Memórias de uma trupe solitária de comediantes que abalou os anos 70; Escolhas, uma Autobiografia Intelectual; e Feminista, Eu?. Nascida em Ribeirão Preto (SP), em 1939, a nova imortal passou a ser a 10ª mulher eleita para a ABL, com 34 votos, de 37. Vai ocupar a cadeira 30, na vaga que ficou aberta em dezembro do ano passado com a morte da saudosa acadêmica Nélida Piñon (1937-2022), primeira mulher a presidir a ABL, a quem Heloísa dedicou boa parte do seu discurso: “Em 126 anos da Academia é a primeira vez que uma mulher sucede uma mulher. Para ver quão poucos nós somos: somamos o total de 10 mulheres para 339 homens. É absurda essa porcentagem, mas agora vai mudar”, declarou Heloísa.

O novo nome – Heloísa Teixeira – está inscrito no diploma, recebido por ela das mãos da imortal Fernanda Montenegro, na cerimônia de posse, em noite concorrida, no Petit Trianon, onde as mulheres foram protagonistas. A acadêmica Rosiska Darcy fez a entrega do colar e a acadêmica Ana Maria Machado fez o discurso de recepção: “Heloísa escapa a todos os rótulos redutores. Tem luz própria. Arrisco-me a dizer que é uma constelação de muitos nomes, como há poucos dias constatamos em entrevista, quando revelou que agora passa a assinar Heloisa Teixeira, destacando o sobrenome materno. ” Ana Maria lembrou ainda da convivência com a nova acadêmica, desde os anos 60, quando ela impressionava pela “clareza racional e a intensidade afetiva, ou a busca de solidez teórica e o simultâneo respeito ao improviso e à intuição, aspectos raros de serem encontrados na mesma pessoa de forma balanceada”, elogiou.

Por Manoela Ferrari