Junho, 2023 - Edição 292

3 anos de atraso, Chico Buarque recebe Prêmio Camões

O cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Hollanda recebeu, no dia 24 de abril, com três anos de atraso, o Prêmio Camões, a mais prestigiosa distinção na área da literatura em língua portuguesa, que lhe foi conferido em 2019. A entrega aconteceu no Palácio Nacional de Queluz, em Sintra, Portugal, em cerimônia da qual participaram, entre outras autoridades, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

Em seu discurso, o autor de Essa gente, Leite derramado e Anos de chumbo, entre outros, lembrou-se do pai, o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, mencionou suas raízes, brincando com a letra da própria canção (“meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano”) –, citou colegas, amigos e parceiros (Vinicius de MoraesRaduan Nassar, José Saramago) e não poupou críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que se recusou a assinar a documentação para que ele recebesse o diploma: “Nesta tarde de celebração, conforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula”, afirmou Chico, acrescentando: “Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo. É bom saber que tenho a porta aberta em Portugal.”

A cerimônia também teve a presença do primeiro-ministro luso, António Costa, dos ministros da Cultura do Brasil (Margareth Menezes) e de Portugal (Pedro Adão e Silva), do presidente do júri, o escritor português Manuel Frias Martins, do escritor moçambicano Mia Couto, além de outras autoridades, artistas e intelectuais.

O presidente português destacou o lirismo e a poesia da obra de Chico e disse que o cantor brasileiro divulgou e elevou a língua portuguesa tanto quanto a obra de Camões. Ele encerrou o discurso com uma paródia da música “Meu caro amigo”, gravada pelo cantor em 1976: “Meu caro amigo, me perdoe, por favor, por toda esta demora”, desculpando-se pelo atraso na entrega do prêmio.