Junho, 2023 - Edição 292

Cinco anos da Casa Roberto Marinho

Para marcar o aniversário de cinco anos (completados no dia 28 de abril), a Casa Roberto Marinho inaugurou três exposições com obras do modernismo brasileiro e de arte popular, que ficarão em cartaz até o dia 16 de julho, no casarão da Rua Cosme Velho, número 1105. No piso superior, a produção de Maria Leontina é exaltada na mostra Gesto em suspensão – um encontro entre Maria Leontina e Lélia Coelho Frota, evocando os quase 30 anos de convivência poética destas duas figuras da arte brasileira. A mostra reúne cerca de cem pinturas, desenhos e gravuras de Maria Leontina (1917-1984) em um recorte inédito e afetuoso de sua obra. Trabalhos raramente exibidos de diversas fases, pertencentes à família da artista, coleções particulares e outras instituições, fazem parte da seleção de Alexandre Franco Dacosta, filho da pintora, também artista visual, compositor e cineasta.

Nome de destaque do modernismo brasileiro, Leontina explorou o figurativismo de cunho expressionista, como se vê na obra Retrato de mulher (1949), e na série As Orantes (1966- 1967). A partir da década de 1950, passou para o abstracionismo, representado na mostra pela pintura Da paisagem e do tempo (1950), bem como pela série Os jogos e os enigmas. Na década de 1960, realizou um painel de azulejos para o Edifício Copan e vitrais para a Igreja Episcopal Brasileira da Santíssima Trindade, ambos em São Paulo. Apesar de sua relevância, há muito tempo não se realizava uma exposição extensa dedicada à obra de Leontina, e Gesto em suspensão cobre esta lacuna. A montagem inclui comentários críticos de Ferreira Gullar, Frederico Morais, Mario Pedrosa, Paulo Herkenhoff e Paulo Venancio Filho. Uma das salas no mesmo andar é dedicada à mostra A Criação do artista popular, que pela primeira vez exibe a coleção de Lélia Coelho Frota (1938- 2010). Poeta, ensaísta, museóloga, historiadora da arte e antropóloga carioca, Lélia foi responsável por trazer à luz trabalhos de artistas populares, genericamente referidos como artesãos do folclore popular, por meio da publicação de sua autoria: Mitopoética de 9 Artistas Brasileiros (Funarte, 1978).



Para o autor de teledramaturgia João Emanuel Carneiro, filho da colecionadora e curador da mostra, a mãe foi muito precursora ao legitimar esses artistas que eram invisibilizados. Ao longo dos anos, Lélia fez várias expedições ao interior do Brasil em busca da arte desenvolvida longe do academicismo, baseada no saber popular e autodidata. Foram selecionadas cerca de 40 peças desta coleção, iniciada na década de 1970, em que os gostos da colecionadora se refletem em muitas camadas. A espiritualidade, por exemplo, pode ser vista em algumas das 12 obras de Júlio Martins da Silva (1893-1978), seu pintor favorito de acordo com João Emanuel. Dentre os trabalhos de outros talentos revelados pela antropóloga, ganha destaque Central do Brasil de Manuel Faria Leal, que pintava espaços urbanos e faz uma interessante interpretação popular da vida do carioca no século XX, numa tela de grande dimensão.

No térreo, o público encontrará a exposição Coleção no seu tempo, com 44 obras do acervo, de vertentes e períodos variados, escolhidas por Lauro Cavalcanti para a ocasião celebrativa. Há trabalhos de Anna Bella Geiger, Antonio Bandeira, Carlos Vergara, Frans Krajcberg, Iberê Camargo, Luiz Aquila, Mira Schendel, Rubem Valentim, Wanda Pimentel e Yolanda Mohalyi, entre outros nomes consagrados.



A seleção inclui também aquisições recentes e trabalhos que serão exibidos pela primeira vez, como Cosmos jaune, 1972, de Arthur Piza; Paisagem, de Manuel Messias, e uma serigrafia sem título, de 1977, de Emanoel Araújo. Em destaque, pinturas de grande formato, como as de Di Cavalcanti, Ingeborg ten Haeff, Jorge Guinle Filho, Manabu Mabe, Raul Mourão e Tomie Ohtake, além de obras atípicas de estrelas do modernismo brasileiro, como as de José Pancetti. Há, ainda, gravuras concebidas especialmente para mostras anteriores da Casa Roberto Marinho por Angelo Venosa, Beatriz Milhazes, Carlito Carvalhosa, Luiz Zerbini, Paulo Climachauska, Regina Silveira e Vania Mignone. A exposição se encerra com uma cronologia que apresenta a sequência de ações do instituto, desde a sua fundação em 2018, com acesso a informações por meio de QR Code.

Por Manoela Ferrari