Abril, 2023 - Edição 290

Academia de Ciências de Lisboa

Cá estamos na terra de Camões, novamente, a participar das atividades da quase tricentenária Academia das Ciências de Lisboa, ora presidida pelo dinâmico presidente José Luís Cardoso, a suceder as notáveis figuras presidenciais de Adriano Moreira, Luís António Aires – Barros, Artur Anselmo, Carlos Salema e dentre todos o mais longevo – Júlio Diniz –, que a dirigiu por vinte e sete anos.
Portugal tem história e tradição!

A antiga Academia Real das Sciencias de Lisboa foi fundada em 24 de dezembro de 1779 pelo Duque de Lafões e em sua estrutura estiveram personalidades de grandeza gigantesca do porte dos freis José Jesus de Maria Mayne e Manuel do Cenáculo Vilas Boas. Este último clérigo professou no Convento da Ordem Terceira de São Francisco e exerceu a presidência da Real Mesa Censória, indicado pelo Marquês de Pombal. Assim, os próceres mandamentais vão a suceder-se no tempo e no espaço a proporcionar, cada qual ao seu talante, a fixação da memória histórica, que sedimenta a historicidade das entidades.
A propósito, na Antiguidade grega, Heródoto – o Pai da História –, já ensinava que as ações, os feitos, devem ser escritos, para que não se perca a glória existencial.

A historicidade constrói estradas infinitas no universo das civilizações. Os nossos avozinhos lusitanos, avoengos, trazem no tálamo de suas almas a visão futurística da importância da lusofonia, sempre criativa e inovadora.
As bibliotecas reais e os seminários religiosos sempre foram os cadinhos onde eram amalgamados, consolidados e estratificados os conhecimentos da época.

Cultura e literatura são sedimentos da gnose, que move o mundo. Relembre-se que o Príncipe Regente e sua genitora – Dona Maria I, quando vieram para o Brasil, fustigados por Napoleão Bonaparte, trouxeram para a Colônia a joia da Coroa; isto é, a Biblioteca Real, que veio a tornar-se a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Nós devemos eternamente o trazimento da Biblioteca Real para a Terra de Pindorama, pois deu-se um pulo no tempo.
Assim, também, o deslocamento da Capital da nação do Rio de Janeiro para Brasília, permitiu a interiorização do país, fixando a hinterlândia brasileira em moldes que relembra o Tratado de Tordesilhas e suas consequências fixadoras de limites.

No ano findo – 2022 –, a Academia de Letras de Brasília, fundada em 28 de março de 1982 por incansáveis escritores, completou 40 anos de existência e de incomum atividade literária. Atualmente, a mais importante Casa de Cultura de Brasília, vincula-se, internacionalmente com os países de Língua Portuguesa, especialmente a Academia das Ciências de Lisboa, com quem celebrou tratado científico entre as duas organizações e mantém laços indissolúveis de fraternidade e cooperação literária.
Adriano Moreira, recentemente falecido aos 100 anos de vida, ex-presidente da Academia das Ciências de Lisboa e fundador da Academia Internacional da Cultura Portuguesa, foi um dos mais importantes próceres do relacionamento cultural e literário entre Brasil e Portugal e, especialmente, com a jovem Capital Federal brasíleira merecedora do aconchego cívico.

Obrigado Portugal – célula mater – do mundo lusófono!

Por José Carlos Gentili, partícipe da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia de Letras de Brasília, da Academia Brasileira de Filologia e da Academia Internacional da Cultura Portuguesa.