Fevereiro, 2023 - Edição 288

Acreditação de instituições de ensino

Novas estratégias da educação

A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, representou, sem dúvida, inestimável contribuição para o aprimoramento da educação brasileira e, em particular, uma provocação inovadora à melhoria do desempenho das instituições de ensino superior. A sua regulamentação no campo da competência federal, tem sido extensa e de certa forma doutrinária, seja quando “estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos cursos e instituições de ensino superior”, como no que concerne aos aspectos mais abrangentes dos dispositivos legais e no elenco de portarias normatizadoras para o credenciamento de instituições privadas de ensino superior.

O credenciamento é uma das inovações legais regulamentadas pelo Decreto 2.207/97 e pelas Portarias 637, 639 e 640/97 e que, embora resulte de uma ambiguidade legislativa com o conceito de autorização, agora restrita aos cursos superiores, sugere importantes atributos relacionados com o desempenho e com os objetivos das instituições de ensino superior. Não é nosso propósito discutir sobre a nova legislação e suas regulamentações, mas, assimilando a sua proposta, refletir sobre alguns aspectos conceituais que julgamos importantes e oportunos para a gestão eficaz do ensino superior. O Decreto 2.026/96 apresenta pela primeira vez, na legislação brasileira, o conceito de indicadores de desempenho global, enquanto a Portaria nº 637/97 estabelece, também de forma original, a figura dos critérios a serem considerados no credenciamento. Conceitos como “autoavaliação” e “avaliação individual” são frequentes nos textos legais sem, no entanto, caracterizarem uma metodologia própria ou mesmo uma sistematização no seu emprego. As mudanças recentes, promovidas pela expansão do conhecimento e da tecnologia, no mercado de trabalho, na competitividade empresarial, nos processos de financiamento de recursos financeiros cada vez mais escassos, na redução do poder aquisitivo da classe média e nos níveis de aspiração da população jovem em busca de melhores empregos, constituem um singular desafio à gestão criativa, competente e eficaz das instituições de ensino, aproximando-as dos procedimentos adotados pelas empresas na condução dos seus negócios e das logísticas mais apuradas, onde os indicadores estatísticos aparecem como ferramentas estratégicas gerenciais. Do elenco de providências adotadas pelo Governo Federal, no sentido de despertar as instituições de ensino superior para a qualidade da prestação de serviços educacionais, o Provão tornou-se a peça mais contundente e discutida. Embora não seja o melhor instrumento de avaliação, uma vez que não impõe compromissos e consequências diretas aos alunos submetidos às provas, é inquestionável a repercussão dos seus resultados. Isoladamente, no entanto, é possivelmente injusto e certamente débil como proposta metodológica.

Recentemente, o Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro, por intermédio da sua Câmara de Ensino Superior, instituiu a figura de uma Comissão multidisciplinar, com o propósito de estabelecer condições para a autorização de funcionamento de Órgãos de Acreditação, ou seja, empresas, fundações, institutos, etc., que se proponham, segundo procedimentos adequados e preestabelecidos, indicar referenciais de qualidade de desempenho de instituições de ensino e que, em curto prazo, se transformem em parâmetros de qualidade e, até mesmo, em classificações de desempenho. Se, no Brasil, aos poucos se constrói uma categorização das instituições de ensino superior, com Universidades, Centros Universitários, Faculdades Integradas, Faculdades e Institutos Superiores ou Escolas Superiores, cumprindo, ainda que de forma um tanto subjetiva, o mandamento legal, nos EUA, a questão ultrapassou muros acadêmicos e se tornou pública em vários outros modelos. Hoje, as instituições vão ocupando um “ranking” educacional assemelhado aos dos hotéis, restaurantes, das cidades, corporações empresariais, etc.

Empresas especializadas publicam as suas detalhadas classificações como a “US News World Report”, “Money”, “Barron’s Guides”, “The Fiske Guide to Colleges” e a “The Gournan Report”, que orientam o público e exigem das instituições desempenhos de melhor qualidade. É claro que existe uma distinção entre classificação e categorização. Categorização está associada aos objetivos e às potencialidades da instituição e que, em decorrência, exigirá das mesmas, reputação, honras e prêmios, pesquisas e trabalhos publicados, instalações, laboratórios, bibliotecas, titulação acadêmica de professores, etc. Poderá haver classificação entre instituições da mesma categoria, mas a distinção de categorias não indicará diferenças na qualidade da prestação de serviços de uma e de outras e, sim, finalidades diversas. A classificação as diferenciará nas categorias, nos cursos e no desempenho e o recurso para este fim é o uso de indicadores. O aproveitamento dos indicadores por instituições de ensino superior no processo de avaliação, como instrumento de aferição de desempenho, apresenta inúmeras vantagens diretas e outras indiretas, apoiando o processo de gestão administrativa, acadêmica e financeira, constituindo-se em elemento indispensável do processo de Acreditação. De um lado, favorecem o estabelecimento de metas visíveis e concretas, envolvendo as equipes no processo consciente de alcance de resultados. De outra forma, mobilizam esforços no sentido de que seja implantada uma linguagem própria, uma cultura de informação fundamentada em retratos do cotidiano, permitindo correções imediatas e ajustes no processo ensino-aprendizagem e em todos os seus envolvimentos. É verdade, que um elenco de indicadores hábil e tecnicamente selecionados e corretamente apurados, cria mecanismos que ultrapassam as funções de controle e invadem os terrenos psicológicos da valorização profissional, do reconhecimento, da motivação e do fortalecimento dos vínculos dos recursos humanos com a instituição. Na medida em que a sistemática de apuração e análise se desenvolve, inevitavelmente será desenhada uma história do comportamento da instituição, favorecendo a definição de metas e a projeção de novas estimativas, corrigidas em função das providências decorrentes. Parâmetros referenciais serão construídos, estimulando a comparação intra sistema, enquanto paralelamente estará sendo abastecido um Banco de Dados indispensável ao planejamento estratégico. Finalmente, entendendo a Acreditação como o estabelecimento de uma reputação, o abono de uma confiança inspirado nos resultados efetivos de um desempenho, é preciso que sejam definidos com clareza os meios de coleta e a fidedignidade das informações, que com o tempo se tornarão de domínio público e virão a se constituir em valiosos elementos de aprimoramento da educação em nosso país.

A Acreditação virá para ficar como um efetivo instrumento à disposição da comunidade para avaliação das instituições de ensino.

Por Roberto Boclin - Abrindo o baú do passado, com esse artigo escrito em 1999, o professor Roberto Boclin aponta a validade das questões tratadas.