Novembro, 2022 - Edição 285

Prêmio Nobel de Literatura

Em 2008, o Prêmio Nobel de Literatura foi concedido a um francês – Jean-Marie Gustave Le Clézio, romancista, ensaísta, escritor de livros infantis, autor de mais de 40 obras, entre elas: Deserto, Estrela Errante, O Processo de Adão Pollo, Índio Branco, O Caçador de Tesouros, Diego e Frida, A Febre.

Outros franceses já foram agraciados: Sully Prudhomme, Romain Rolland, Anatole France, Henry Bergson, Roger Martin Du Gard, André Gide, François Mauriac, Albert Camus, Saint John Perse, Jean Paul Sartre, Claude Simon, Gao Xing Jian (chinês naturalizado), conforme nos orienta o saudoso boletim Píndaro, da Academia de Letras de Brasília. À época, recebeu a quantia de 1,2 milhão de euros, cerca de 10 milhões de coroas suecas.

Hoje, 2022, os franceses voltam a ganhar esse milionário galardão, com a escolha da octogenária escritora Annie Ernaux, conforme anúncio de Anders Olsson – the committee´s chair –, da Svenska Akademien, que afirmou que “sua obra explora a experiência de uma vida marcada por grandes disparates, observando gênero, linguagem e classe”. A Academia de Letras de Brasília, que mantém vínculos com algumas academias europeias e é a mais importante Casa de Cultura da Capital da Esperança, tem indicado, anualmente, nomes de notáveis escritores brasileiros, mantendo o mais absoluto sigilo da nominação, condição sine qua non, a reger o universo concessivo desse galardão.

A nossa indicação brasileira guarda rigidamente o regramento imposto pela Svenska Akademien ao indicar um nome de candidato à premiação, o que acon teceu esse ano de 2022, quando eleita foi a literata francesa, como poderia ser um escritor do Brasil, também. Há anos, a Academia Brasileira de Filosofia, comandada pelo saudoso amigo João Ricardo Moderno, indicou publicamente o poeta Carlos Nejar, oportunidade na qual a Academia de Letras de Brasília manteve integral apoio em várias visitas pessoais em Estocolmo, sempre a receber o prestígio da diplomacia brasileira na Suécia, via os excepcionais diplomatas Marcos Vinícius Pinta Gama e Leda Lúcia Camargo. Os anos se sucedem e nenhum escritor brasileiro é laureado, restando-nos aplaudir o lusitano José Saramago (1998), único e merecido vitorioso na Língua de Camões. Ovídio (43 a.C. – 18 d.C.) já enunciava – Água mole cava a pedra, (gutta cavat lapidem), dando origem ao provérbio: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.”

Por José Carlos Gentili, membro da Academia de Letras de Brasília e da Academia das Ciências de Lisboa.