Renovação na ABL

Aos 125 anos, a Academia Brasileira de Letras (ABL) iniciou com vigor uma nova etapa, com a posse da diretoria eleita para o exercício de 2022. A cerimônia, que antes era realizada de forma simplificada, aconteceu em sessão solene no Petit Trianon, modelo inédito nos últimos anos. Durante a celebração, também foi entregue o Prêmio Machado de Assis de 2021 a Ruy Castro pelo conjunto da obra.

No salão lotado, imunizada e sem a obrigação de usar máscaras, a chapa composta por Merval Pereira como presidente; Nélida Piñon, secretária-geral; Joaquim Falcão, primeiro-secretário; Celso Lafer, segundo-secretário; e Evaldo Cabral de Mello como tesoureiro, assumiu com um olho no passado (considerando o aniversário da instituição) e outro no futuro (as renovações de seus membros, além do uso da tecnologia consolidado ao longo da pandemia).

Durante a pandemia, a ABL suspendeu suas atividades presenciais pela primeira vez em sua história. Entre março de 2020 e outubro de 2021, os acadêmicos ficaram em casa e se aperfeiçoaram nas ferramentas tecnológicas. Unindo a tradição à modernidade, fizeram lives e palestras on-line, além de reuniões por videoconferência. Em seu discurso de posse, o acadêmico e jornalista Merval Pereira destacou o papel da Academia nos períodos de turbulência e sua importância para o equilíbrio da sociedade: “Esses dois anos tão difíceis que aparentemente vão ficando para trás nos mostram, porém, como podemos ter esperança na superação desse novo e triste desafio: a união de cidadãos nas democracias de todo o mundo na luta diária contra o mal. Tem sido assim na pandemia e será assim no repúdio à guerra. A Academia Brasileira de Letras é e sempre será uma trincheira a favor da Arte, mas também da Ciência e da Paz (...). Nós temos o importante papel na defesa da cultura brasileira num momento em que a cultura está muito maltratada. E também mais uma tarefa: lutar pela liberdade de expressão e contra a censura”, destacou.

Seguindo o ritual, o presidente Merval Pereira homenageou os acadêmicos que morreram nos últimos dois anos (Affonso Arinos de Mello Franco, Murilo Melo Filho, Tarcísio Padilha, Alfredo Bosi, Marco Maciel e Candido Mendes de Almeida) e deu boas-vindas aos recém- -chegados: “Esta é uma dolorosa renovação que segue o ritmo natural da vida, a que estamos acostumados como instituição, que preserva seu passado e torna imortais pela lembrança de suas obras aqueles que se foram”, afirmou.

No discurso de agradecimento do Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra, Ruy Castro destacou a vocação da ABL para a semeadura e a colheita do aprendizado e do ensino: “De todas as instituições que têm como território de estudos o Brasil, ela é a instituição-síntese, porque, desde o começo, além dos ficcionistas, poetas e ensaístas, recebeu praticantes de todas as disciplinas. Ser premiado por ela redobra minha responsabilidade como escritor e como brasileiro.”

Em clima de renovação e ânimo revigorado com a retomada dos eventos presenciais, uma série de programas e projetos ao longo do ano prometem restabelecer o vigor da Casa de Machado, que se prepara para muitos desafios, como a recepção dos novos membros recém-eleitos. Todos terão um papel de destaque na nova fase. A atriz Fernanda Montenegro, por exemplo, fará leituras de Nelson Rodrigues no teatro da ABL. Além de Fernanda (que tomou posse no dia 25 de março), outros quatro acadêmicos se preparam para cerimônias distintas: o cantor Gilberto Gil, o médico Paulo Niemeyer, o jurista José Paulo Cavalcanti Filho e o economista Eduardo Gianetti.

Outra prioridade da nova diretoria é celebrar os 125 anos da ABL e outras efemérides marcantes, como o centenário da Semana de Arte Moderna, que ganhará um ciclo coordenado pelo acadêmico Geraldo Carneiro, e o bicentenário da Independência, cuja organização está a cargo do acadêmico José Murilo de Carvalho.

“Falar de uma instituição de 125 anos como a Academia Brasileira de Letras é necessariamente falar menos do passado e mais do seu futuro, que seguirá seu curso histórico como bastião da cultura brasileira, especialmente em tempos difíceis em que é preciso persistir para cumprir seu destino de distribuir conhecimento, valorizar a língua e a literatura nacional, sem abrir mão de compromissos sociais há muito inseridos na nossa história”, lembrou o presidente.