Julho, 2020 - Edição 257

Quem foi Antonio DiasTavares Bastos?

Antonio Dias Tavares Bastos nasceu em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, em 7 de julho de 1900. Os Bastos se mudaram para Vitória em 18 de julho de 1910. O pai de Tavares Bastos, José, era juiz federal, além de autor de obras jurídicas. A família, aliás, contava com um ascendente ilustre, Aureliano Cândido Tavares Bastos, bisavô de Antonio, jurista, senador, escritor e, por coincidência, morto na França, em Nice.

Tavares Bastos começou seguindo os passos do pai, estudando Direito no Rio de Janeiro, de 1918 a 1922. É depois dessa primeira volta ao Rio que ele começava a se fazer conhecido, no circuito RJ/ES. Chegou, também, a contribuir para a revista Verde, dos modernos de Cataguases/MG. Mas foi em terras capixabas que concluiu os manuscritos do que viria a ser seu primeiro livro, Ballades Brésiliennes, sob um pseudônimo, no mínimo, curioso: Charles Lucifer.

Ballades Brésiliennes foi lançado em 1924, em Paris, pela Éditions de la pensée latine. Ballades, aliás, causou impacto, sendo citado no jornal Le Figaro de 1924 e tendo duas resenhas, uma na Revue Mensuelle Illustrée, do mesmo ano, e outra, no ano seguinte, na Les Nouvelles Littéraires. Bastos ainda lançaria, em solo capixaba, Les Poèmes Défendus (1925), livro de poemas eróticos. A vida do autor pode ser dividia em duas fases: uma, brasileira, ainda enquanto “Charles Lucifer”, cuja maioria dos trabalhos se deu em solo capixaba.

Esse período vai até 1937, quando, já residindo no Rio (desde 1927), abandona de vez a carreira jurídica e vai se fixar em solo francês, na cidade de Paris. Ali, começa a fase francesa, quando ele usa seu próprio nome, fixando-se no país até sua morte, em 1960. Bastos sofreu as agruras da Guerra, encontrou guarida em Vichy e conheceu a belga Georgette, vindo a se casar em 17 de dezembro de 1942, tendo como padrinho o embaixador Souza Dantas. Com a criação da Unesco, é chamado para fazer parte da delegação brasileira.

Em 1947, junto com o escritor e hispanista Pierre Darmangeat, lança Introduction à la Poésie Hibéro-américaine, recolho de poemas de autores portugueses, espanhóis e latino-americanos. Porém, em 1957, o autor organiza, sozinho, a importante Anthologie de la Poésie Brésilienne Contemporaine, pela editora Tisnet, livro que ganharia uma láurea da Académie française e uma edição póstuma, pela Seghers, em 1966, com prefácio do imortal da Academia Brasileira de Letras Paulo Carneiro, grande amigo do poeta.

Essa antologia conta com 227 poemas de 47 poetas (na edição de 1966, com três poemas de Bastos e uma biografia feita pelo editor, em homenagem). Ela congrega escritores nascidos entre 1866 e 1925. A escolha dos poemas originais é do próprio Bastos, que deu preferência aos modernos: há, aí, grandes nomes, como os de Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto e Haydée Nicolussi.

Antonio Dias Tavares Bastos, o “Charles Lucifer”, morre em 15 de outubro de 1960, em Paris, trabalhando para a Unesco, mas sempre se dedicando à literatura. Um escritor que escreve em francês, um amante da língua e das coisas da França, mas que nunca perdeu sua identidade brasileira.

Por Anaximandro Amorim - Anaximandro Amorim é membro da Academia Espírito-santense de Letras.